sábado, 17 de março de 2012


A IGREJA QUE NÃO EXISTE MAIS


“Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens e os repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos.” At 2. 43-47

Na época do surgimento da Igreja do Novo Testamento, a palavra igreja significava, apenas, uma reunião qualquer de um grupo organizado ou não. Assim, o texto nos revela que havia um grupo organizado em torno de sua fé (Todos os que criam estavam unidos) – todos acreditavam em Cristo.

Segundo o texto, os participantes do grupo do Cristo não tinham propriedade pessoal, tudo era de todos (tinham tudo em comum)– os membros desse grupo vendiam suas propriedades e bens e repartiam por todos – e isso era administrado a partir da necessidade de cada um; e se reuniam todos os dias no templo; e pensavam todos do mesmo jeito, primando pelo mesmo padrão de vida (unânimes); e comiam juntos todos os dias, repartidos em casas, que, agora, eram de todos, uma vez que não havia mais propriedade particular; e eram alegres e de coração simples; e viviam a louvar a Deus; e todo o povo gostava deles, e o grupo crescia diariamente. Diariamente, portanto, havia gente acreditando em Cristo, se unindo ao grupo, abrindo mão de suas propriedades e bens e colocando tudo a disposição de todos.

Essa Igreja era a Comunhão dos santos – chamados e trazidos para fora do império das trevas,
para servirem ao Criador, no Reino da Luz.

Essa Igreja não precisava orar por necessidades materiais e sociais, bastava contar para os irmãos, que a comunidade resolvia
Deus havia respondido, a priori, todas as orações por necessidades materiais e sociais, fazendo surgir uma comunidade solidária.

O pedido: “O pão nosso de cada dia, dá-nos hoje. (MT 6.9) ” estava respondido, e diariamente.

Então, para haver o “pão nosso” não pode haver o pão, o bem ou a propriedade minha, todos os bens e propriedades têm de ser de todos.

tarde, eles elegeram um grupo de pessoas, chamadas de diáconos – garçons, para cuidar disso (At 6.3). Então, diante de qualquer necessidade, bastava procurar os garçons, que a comunidade cuidava de tudo. Era o princípio do direito: se alguém tinha uma necessidade, a comunidade tinha um dever.Mais

Essa Igreja não existe mais!

 a necessidade deles.

“Está doente algum de vós? Chame os anciãos da igreja, e estes orem sobre ele, ungido-o com óleo em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados.” Tg 5.14,15

Os membros da comunidade do Cristo não precisavam orar por cura física, bastava procurar os presbíteros: lideres eleitos pelo povo, a partir de suas qualidades como cristãos (1Tm 3.1-7); que eles ungiriam com óleo, que representa a ação do Espírito Santo, porque é o Espírito Santo, quem unge e cura (Lc 4.18), e a pessoa seria curada; claro, sempre segundo a vontade do Senhor, porque essa é a regra de ouro: “Venha o teu Reino, seja feita a tua vontade, assim na Terra como no Céu. (MT 6.10)”

Os crentes em Jesus de Nazaré, não precisavam fazer varredura espiritual para ver se tinham qualquer problema, parecido com o que hoje é chamado de maldição hereditária, ou similar. A oração dos presbíteros ministrava o perdão de Deus, conquistado por Cristo na cruz e na ressurreição.

Deus havia respondido todas as orações por cura física pela instituição de presbíteros, que tinham a autoridade para ministrar o poder de Cristo sobre a enfermidade, segundo a vontade de Deus, dependendo, portanto, apenas, do que o Altíssimo tivesse decidido sobre a pessoa em questão.

Essa Igreja não existe mais!

Pelo que orava a Igreja do Novo Testamento?

“Mas eles ainda os ameaçaram mais, e, não achando motivo para os castigar, soltaram-nos, por causa do povo; porque todos glorificavam a Deus pelo que acontecera; pois tinha mais de quarenta anos o homem em quem se operara esta cura milagrosa. E soltos eles, foram para os seus, e contaram tudo o que lhes haviam dito os principais sacerdotes e os anciãos. Ao ouvirem isto, levantaram unanimemente a voz a Deus e disseram: Senhor, tu que fizeste o céu, a terra, o mar, e tudo o que neles há; que pelo Espírito Santo, por boca de nosso pai Davi, teu servo, disseste: Por que se enfureceram os gentios, e os povos imaginaram coisas vãs? Levantaram-se os reis da terra, e as autoridades ajuntaram-se à uma, contra o Senhor e contra o seu Ungido. Porque verdadeiramente se ajuntaram, nesta cidade, contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, não só Herodes, mas também Pôncio Pilatos com os gentios e os povos de Israel; para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho predeterminaram que se fizesse. Agora pois, ó Senhor, olha para as suas ameaças, e concede aos teus servos que falem com toda a intrepidez a tua palavra, enquanto estendes a mão para curar e para que se façam sinais e prodígios pelo nome de teu santo Servo Jesus. E, tendo eles orado, tremeu o lugar em que estavam reunidos; e todos foram cheios do Espírito Santo, e anunciavam com intrepidez a palavra de Deus.” At 4.21-31

Oravam para que nenhum sofrimento os impedisse de glorificar a Cristo, de anunciá-lo com coragem e determinação – o Cristo que eles viviam diariamente pela fraternidade solidária. Oravam por missão!

Para além da Igreja que está sob perseguição, não há sinal de que essa Igreja ainda exista!

O que existe?

- A Comunhão dos santos existe na realidade da Igreja invisível. Mas, que relevância tem na história uma igreja invisível?
- Ajuntamentos cúlticos – há os que procuram se pautam pela Bíblia, e os que nem tanto.
- Instituições – (muitas e cada vez mais) há as que ainda tentam ser apenas um odre para o vinho, e as que nem tanto.
- Discursos sobre Cristo e sua obra – há os que falam sobre Jesus, segundo a Bíblia, e os que nem tanto.
- Conversões pessoais – há as que trazem marcas do Novo Testamento, e as que nem tanto.
- Missionários – há os que pregam a Cristo, sua morte e ressurreição, e os que nem tanto. O apoio ao missionário está mais para esmola do que para sustento.
- Ação social – há as que querem emancipar o pobre, por amor a Cristo, e as que nem tanto.
- Pastores e Lideres – há os que tentam alcançar o padrão dos presbíteros do Novo Testamento, e os que tanto menos.
- Títulos - em profusão, constratanto com a escassez de irmãos.
- Orações - principalmente, por necessidades materiais, sociais e de cura, que parecem não ser respondidas, pelo menos, não a contento.
- Milagres – (mas pessoais) a misericórdia divina continua se manifestando, porém, não se entende mais o princípio de sua ação.
- Ministérios – há os que são ministros (servos), e os que nem tanto.
- Riqueza – Instituições estão cada vez mais ricas, e há os que usufruem da mesma.

- Ricos e Poderosos - muitos e cada vez mais se declaram conversos, mas não se converteram como Zaqueu.
- Irmãos e irmãs que amam a Cristo e a Igreja, mas que estão cada vez mais confusos sobre o que estão assistindo – e há, cada vez mais, um amor em crise.

E ecoa a voz do Cristo: Contudo quando vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra? (Lc 18.8)

Talvez, ainda haja tempo de pedir perdão!



quarta-feira, 14 de março de 2012

O AMOR DE DEUS NÃO É INCONDICIONAL

É um equívoco dizer que o amor de Deus é incondicional, para que seja assim o amor de Deus deveria cumprir duas condições que, a meu ver, estão implícitas no termo incondicionalidade: a não necessidade de pré-requisito e a não expectativa de reciprocidade. Vejamos:

A- "Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro." I Jo 4.19 (RC)

Deus não ama incondicionalmente: Deus ama para ser amado. Deus espera que seu amor por nós desperte amor por Ele. Se Deus amasse incondicionalmente a salvação teria de ser universal.

Incondicionalidade significa não exigir nenhum pré-requisito e não esperar nenhum tipo de resposta. Não é o caso: Deus espera ser amado. Logo, antes de ser incondicional, o amor de Deus atua para criar em nós condições de amá-lo. Não é incondicional porque dos dois fatores que demarcam a incondicionalidade: a ausência de pré-requisito e o não aguardo de resposta - o amor de Deus contempla apenas o primeiro. O amor de Deus não exige pré-requisito: "Mas Deus mostrou-nos até que ponto nos ama, pois, quando ainda éramos pecadores, Cristo morreu por nós." (Rm 5.8 - SBP) O amor de Deus, entretanto, exige uma resposta: "Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." (Jo 3.16 – RA) – Deus ama ao mundo, mas só salva àquele que responde ao seu amor.

B- "O amor de Cristo absorve-nos completamente, pois sabemos que se ele morreu por todos, então todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem já não vivam para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou." 2Co 2.14,15 (SBP)

O amor sacrificial de Cristo é suficiente para salvar a todos, mas, é eficaz aos que, conscientes desse amor, não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. O amor de Cristo espera gerar conversão, para que haja salvação.

C- "Nós sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, dos que são chamados segundo o seu plano." Rm 8.28 (SBP)

Deus é soberano, mas se responsabiliza pela história daqueles que o amam; o caminho dos ímpios, porém, perecerá (Sl 1.6). Deus garante que interferirá na história para que esta seja benéfica para os que o amam, contudo, deixará que os ímpios sigam livremente o seu curso, o que terminará em perdição. E, ímpios são os que não respondem ao amor de Deus.

D- "Foi antes da festa da Páscoa. Jesus sabia que tinha chegado a sua hora de deixar este mundo para ir para o Pai. E ele, que amou sempre os seus que estavam no mundo, quis dar-lhes provas desse amor até ao fim. (...) Levantou-se então da mesa, tirou a capa e pegou numa toalha que pôs à cintura. Depois deitou água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha. (...) Se eu, que sou Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também de agora em diante devem lavar os pés uns aos outros." Jo 13. 1, 4, 5, 14 (SBP)

Mesmo o ato mais amoroso e aparentemente incondicional de Cristo tinha um propósito: provocar conversão em seus discípulos, de modo que o imitassem. Não era, portanto, uma demonstração da incondicionalidade de seu amor, mas um ato pedagógico visando um fim específico. Deus ama primeiro, porém não incondicionalmente, ele espera uma resposta.

E- "E diz também: Se o teu inimigo tem fome, dá-lhe de comer e se tem sede dá-lhe de beber. Ao fazeres isso, farás com que a cara lhe arda de vergonha." Rm 12.20 (SBP)

Mesmo o amor com que Deus manda que amemos não é incondicional, espera uma resposta. Ainda que a gente não deva parar de amar por motivo nenhum: "E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido." Gl 6.9 (RA) – a gente, também, não pode perder a esperança de alcançar a resposta desejada.

F- "Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR. Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força." Dt 6.4,5

Deus espera ser amado, porque esta é a única maneira adequada de relacionar-se com Deus na beleza de sua exclusividade, de sua santidade: amá-lo acima de todas as coisas – o que significa sempre escolher a Deus, não importa quão tentadora seja a possibilidade oferecida; quem ama a Deus acima de todas as coisas só escolhe o que Deus escolheria, porque sempre escolhe a Deus.

G- "Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele. Quem não me ama não guarda as minhas palavras; e a palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai, que me enviou." Jo 14.21,24 (RA) "Aquele que diz: Eu o conheço e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade. Aquele, entretanto, que guarda a sua palavra, nele, verdadeiramente, tem sido aperfeiçoado o amor de Deus. Nisto sabemos que estamos nele: aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou." 1Jo 2.4-6 (RA)

Quem ama a Deus? Aquele que o obedece. O que acontece com aquele que obedece a Deus? O amor de Deus é nele aperfeiçoado, isto é, nele o amor que saiu de Deus consegue cumprir a missão para a qual saiu. Deus ama para ser obedecido! Quem não obedece a Deus como resposta ao seu amor, não só não o ama como nem o conhece de fato; logo, não pode nele permanecer, até porque nem está nele.

H- "Nem todos aqueles que me dizem: ‘Senhor, Senhor!’ entrarão no reino dos céus, mas apenas os que fazem a vontade de meu Pai que está nos céus." Mt 7.21 (RA)

Os que não obedecem a Deus não serão salvos, não porque a salvação seja pelas obras, mas porque a graça de Deus, que em nós foi derramada, nos torna filhos da obediência, prontos para as boas obras e para andar de modo digno do chamado que recebemos; porque, pela graça, somos fortalecidos com poder no homem interior, podendo, assim, ser imitadores de Deus, como filhos amados, como nos ensina o apóstolo Paulo, na carta aos efésios.

Então, quem peca não é salvo? Para os que caem em pecado há uma palavra de obediência que, em sendo cumprida, demonstra que eles, ainda amam ao Senhor, embora, por um momento, o tenham desonrado: "Mas se confessarmos os nossos pecados, Deus que é fiel e justo perdoará os nossos pecados e nos purificará de todo o mal." I Jo 1.9 (SBP). Há uma ordem clara para todo o que, se dizendo filho de Deus, cai em pecado: arrepender-se. A ordem é não pecar, contudo, disse João: "Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo." I Jo 2.1 (RA). É preciso, entretanto, ter sempre em mente a palavra do apóstolo: "Todo aquele que permanece nele não vive pecando; todo aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu. Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática do pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus." I Jo 3.4,8 (RA)

O amor de Deus não é incondicional, Deus ama para ser obedecido.

Tudo, na Bíblia, parece dizer que Deus não deixa de amar porque não houve resposta ao seu amor, entretanto, também não deixa de esperar que essa resposta venha. E se ela não vier, apesar de todo o amor que dispensa às suas criaturas, executará o juízo.

quarta-feira, 7 de março de 2012

 
 
 
É-nos da máxima importância apercebermo-nos de que existe o que se chama «disciplina da vida cristã». Não basta dizer. . . que, o que quer que nos suceda, temos apenas de «olhar para o Senhor», que tudo nos irá bem. . . Esse ensino é antibíblico. Se fosse só isso que tivéssemos que fazer, muitas porções das Escrituras seriam completamente desnecessárias . . .não haveria motivo para existirem as Epístolas; mas elas foram escritas. . . por homens inspirados pelo Espírito Santo . . .o que nos dizem. . . é que há uma disciplina essencial na vida cristã.

Um dos aspectos mais lamentáveis da vida de certos tipos de cristãos hoje em dia é que parecem ter perdido de vista esse aspecto da fé. Infelizmente, isso acontece sobretudo com relação aos que se empenham por maior fidelidade ao Evangelho. . . Em primeiro lugar e sobretudo, houve uma reação contra o ensino católico-romano. No sistema católico-romano dá-se muita importância a certa espécie de disciplina. Foram produzidos muitos livros e manuais sobre o assunto. De fato, alguns dos maiores mestres desse tipo de ensino são católicos-romanos como, por exemplo, Bernardo de Claraval, ou o bem conhecido Fénélon, cujas famosas Cartas para Homens e Cartas para Mulheres foram muito populares em certa época.

Pois bem, os protestantes reagiram contra isso, e em certa medida fizeram bem. . . Mas deduzir do mau uso da disciplina que não há nenhuma necessidade dela na vida cristã, é algo totalmente errado.

Na verdade, os períodos realmente grandiosos do protestantismo sempre se caracterizaram pelo reconhecimento da necessidade de tal disciplina. . . Por que homens como os dois irmãos Wesley e Whitefield foram chamados metodistas? Porque tinham vida metódica. Eram metodistas porque tinham método em suas reuniões. . . O próprio termo metodista. . . salienta o fato de que criam na disciplina, em como as pessoas devem disciplinar sua vida e como se deve tratar e lidar com cada personalidade, nas circunstâncias e situações com que nos defrontamos no mundo em que vivemos.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Como Viver num Mundo Mau – D. M. Lloyd-Jones


Todos os Heróis da fé viveram no mesmo mundo em que eu e vocês vivemos; o mundo foi sempre o mesmo. E no registro a respeito deles lê-se como se segue: "Os quais pela fé venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam as bocas dos leões, apagaram a força do fogo, escaparam do fio da espada, da fraqueza tiraram forças, na batalha se esforçaram, puseram em fugida os exércitos dos estranhos. As mulheres receberam pela ressurreição os seus mortos; uns foram torturados, não aceitando o seu livramento para alcançarem melhor ressurreição; e outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões. Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados (dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos e montes, e pelas covas e cavernas da terra".

Esse era o tipo de mundo no qual eles viveram. O nosso mundo não é pior; todavia é igualmente mau. Eles viveram num dia mau, e nós vivemos num dia mau. Mas aqueles homens triunfaram. Foram figuras heróicas, foram capazes de permanecer firmes, de resistir. Tendo feito tudo, permaneceram inabaláveis, ficaram fumes como homens, e até hoje se destacam na história como gigantes.

O segredo deles é que eles fizeram precisamente as coisas que os cristãos hebreus não estavam fazendo. Aqueles homens eram fortes "no Senhor e na força do seu poder"; eles "exercitavam os seus sentidos" para poderem entender a verdade de Deus; eram homens que sabiam diferenciar entre o bem e o mal. Vejam um homem como Moisés. Criado como filho da filha de Faraó, podia ter sido o herdeiro do trono. Entretanto ele pôs isso de lado, e o fez porque tinha os olhos postos "na recompen¬sa". Esse é o segredo de todos aqueles homens; e eu e vocês devemos observá-los e pensar bem no seu exemplo.

E desta maneira que aqueles homens do passado realmente nos ajudam. Vemo-los fazerem exatamente o que somos chamados a fazer. Eles correram a carreira, e triunfaram. Eles se edificaram a si mesmos na sua santíssima fé. Eles ficaram firmes contra as astúcias do diabo, apesar de todo o sofrimento por que passaram. Que homens magníficos! A história deles foi escrita para ajudar-nos e fortalecer-nos. Você não se sente melhor sempre que lê sobre eles? E um tônico excelente. Quando você achar que a luta está sendo demais para você, que tudo está contra você, e quando você se queixar de tudo o que lhe está acontecendo, leia o capítulo onze da Epístola aos Hebreus. Se no fim você não se envergonhar de si mesmo, você é um pobre cristão. E pobre cristão você será, se não se levantar e não disser: "Sim, eles fizeram aquilo no poder de Deus, e eu vou fazer o mesmo. Se Deus os capacitou, Ele me capacitará". Esse é o constante argumento das Escrituras. Tiago cita o caso de Elias. Diz ele: "Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós" (5:17). Não havia nada de peculiar em Elias que explicasse as coisas que ele fez; foi Deus que o capacitou. Muito bem, façam como ele, diz Tiago. E assim foi com todos eles. O livro de Jó é, todo ele, um grande tratado sobre este assunto. Considerem a paciência de Jó, e como Deus o tratou no fim, e o abençoou.

Ler a respeito desses homens ajuda-nos a fortalecer-nos e nos anima a prosseguir com os nossos exercícios. Se procedermos assim, viremos a ser como eles. Sigam-nos, sigam essa caravana de heróis; são homens como esses que devemos imitar e que devemos tomar por modelo.

E assim passamos ao nosso derradeiro princípio: "Portanto nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual pelo gozo que lhe estava proposto suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus. Considerai pois aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos. Ainda não resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado". O Filho de Deus é a mensagem funda¬mental. "Olhando para Jesus", que veio deliberadamente a este mundo mal, a este mundo de guerras, pecado, vergonha e indignidade. Ele não pertencia a este mundo. Veio a ele deliberadamente; Ele sofreu e suportou a contradição dos pecadores contra Si. Ele "resistiu até ao sangue". E isso tudo "pelo gozo que lhe estava proposto". Ele tinha conhecimento do lugar para onde ia e da glória vindoura. Por isso "suportou a cruz, desprezando a afronta".

E desse modo que se faz exercício, é desse modo que se "corre a carreira" que nos é proposta. É desse modo que você se edifica em sua santíssima fé! Esta é a única mensagem para os homens e para as mulheres num mundo como o de hoje. Não podemos mudar as circuns¬tâncias, mas podemos triunfar nelas. Podemos ser: "mais do que vencedores"; e nos tornamos tais quando nos achamos "olhando para JESUS". Olhem para Ele! Olhem as noites que Ele passou em oração, olhem o Seu conhecimento da Palavra de Deus, olhem o modo como Ele "exercitava os Seus sentidos". E todos os que O seguem têm feito o mesmo; todos eles são Seus imitadores.

Devemos tornar-nos Seus imitadores. Devemos olhar para além dos homens, devemos olhar para o Filho de Deus e para o que Ele fez para "livrar-nos do presente século mau" (Gálatas 1:4), e introduzir-nos na glória que nos espera com Deus.

Cristãos, o inundo está olhando para vocês, esperando de vocês ensino, instrução, um exemplo de como viver vitoriosamente. Exercitem, pois, os seus sentidos, agarrem-se a estas coisas, olhem para os grandes heróis da fé, buscando deles inspiração. Acima de tudo, olhem para Jesus, "o autor e consumador da fé", e assim vocês se fortalecerão "no Senhor e na força do seu poder", e serão capazes de resistir no dia mau quando este chegar. Há somente um meio pelo qual podemos "ficar firmes" num tempo como esse, e é conhecer esta verdade, fortalecer-nos nela e, havendo feito tudo, "ficar firmes".