Transportado acima das circunstâncias – M. Lloyd-Jones
"Vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus".
Essa é a resposta. Mas é de importância vital que saibamos precisamente
como tratar disso. O apóstolo diz: "Vossas petições sejam conhecidas
diante de Deus". "Ah", dizem muitos sofredores, "mas eu já tentei, eu já
orei; e não encontrei a paz de que você fala. Não obtive resposta. Não
adianta me dizer para orar". Felizmente para nós, o apóstolo também
entendeu isso, e deixou-nos instruções específicas sobre como cumprir
sua exortação. "Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas
petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e
súplicas, com ação de graças". O apóstolo estaria apenas amontoando
palavras aqui, ou estaria falando ponderadamente? Posso mostrar que ele
na verdade está falando ponderadamente e com sabedoria, ao nos mostrar
como tornar nossas petições conhecidas diante de Deus.
Como
devemos fazer isso? Ele diz que devemos orar. Ele estabelece uma
diferença entre oração, súplica e ação de graças. O que ele quer dizer
com oração? Este é o termo mais geral, e significa adoração e louvor. Se
têm problemas que parecem insolúveis, se estão sujeitos a ficarem
ansiosos e preocupados, e alguém lhes diz para orar, não corram a Deus
com suas petições. Esse não é o caminho certo. Antes de tornar suas
petições conhecidas diante de Deus, orem, louvem, adorem. Entrem na
presença de Deus, e esqueçam os seus problemas por um pouco. Não comecem
com eles. É só lembrar que estão face a face com Deus. Essa idéia de
"face a face" está imbuída no próprio sentido da palavra "oração". Vocês
entram na presença de Deus, tomam consciência da Sua presença, e
ponderam na Sua presença — esse sempre é o primeiro passo. Mesmo antes
de tornar suas petições conhecidas diante de Deus, vocês tomam
consciência que estão face a face com Deus, que estão em Sua presença, e
derramam seus corações em adoração. Esse é o começo.
Mas
depois da oração vem a súplica. Agora estamos avançando. Depois de
adorar a Deus porque Ele é Deus, tendo oferecido nossa adoração e louvor
de forma geral, passamos agora ao particular, e o apóstolo aqui nos
encoraja a apresentar as nossas súplicas. Ele diz que podemos apresentar
necessidades específicas a Deus, que a petição é uma parte legítima da
oração. Então traze¬mos nossas petições, aquelas coisas que estão nos
preocupando de forma particular.
Estamos
agora chegando perto de tornar as nossas petições conhecidas a Deus.
Mas, um momento — ainda há uma coisa antes: "pela oração e súplicas, com
ação de graças". Esse é um dos termos mais vitais desta lista. E é
exatamente neste ponto que tantos se desviam quando estão nessa situação
de que o apóstolo está tratando. Creio que não é necessário discorrer
sobre o fato que, em conexão com estes passos, o apóstolo não estava
simplesmente interessado em fórmulas litúrgicas. Que tragédia, que
tantas pessoas se interessam pela adoração meramente num sentido
litúrgico. O apóstolo não está preocupado com isso. Ele não está
interessado em formalidades e cerimônias; está interessado em adoração, e
ação de graças é absolutamente essencial, pela seguinte razão. Se, ao
orar, temos qualquer ressentimento contra Deus em nosso coração, não
temos o direito de esperar que a Sua paz guarde nosso coração e a nossa
mente. Se caímos de joelhos, sentindo que Deus está contra nós, é melhor
nos levantarmos. Devemos nos aproximar dEle "com ação de graças". Não
podemos ter qualquer dúvida em nosso coração sobre a bondade de Deus.
Não pode haver qualquer indagação ou desconfiança; devemos ter razões
positivas para dar graças a Deus. Temos nossos problemas e dificuldades,
mas quando estamos de joelhos, deve¬mos nos perguntar: "Pelo que posso
dar graças a Deus?" Precisamos fazer isso deliberadamente, e é algo que
podemos fazer. Devemos nos lembrar disso, e dizer: "Estou com problemas
neste momento, mas posso dar graças a Deus por minha salvação, porque
ele enviou Seu Filho para morrer na cruz por mim e por meus pecados.
Estou enfrentando um problema terrível, eu sei, mas Ele fez isso por
mim. Dou graças a Deus por ter enviado Seu Filho, nosso Senhor Jesus
Cristo, a este mundo. Agradeço a Ele por ter levado meus pecados em Seu
corpo sobre a cruz, e por ter ressuscitado por minha justificação. Vou
derramar meu coração em ação de graças por isso. E vou agradecer a Ele
pelas muitas bênçãos que recebi no passado". Precisamos trazer à nossa
mente razões para agradecer e louvar a Deus. Devemos nos lembrar que Ele
é nosso Pai, que nos ama tanto, que até os cabelos da nossa cabeça
estão contados. E depois de nos lembrarmos destas coisas, devemos
derramar nosso coração em ação de graças. Precisamos ter um
relacionamento acertado com Deus. Devemos compreender a verdade a Seu
respeito. Portanto, devemos entrar em Sua presença com amor, louvor,
adoração e fé confiante, e então tornar nossas petições conhecidas
diante dEle. A oração que Paulo está pleiteando, em outras palavras, não
é um grito desesperado no escuro, não é um apelo frenético a Deus, sem
raciocínio ou ponderação. Não! Primeiro nós entendemos e nos lembramos
de que estamos adorando um bendito, glorioso Deus. Adoramos primeiro, e
então tornamos nossas petições conhecidas.