domingo, 31 de outubro de 2010

Um Evangelho honesto! – Lloyd-Jones


(A vida cristã) não é vida que no início seja lindamente ampla e que, à medida em que você prossegue, vá ficando cada vez mais estreita. Não! Já desde o portal, no próprio caminho de entrada a essa vida, há vereda estreita. . . Muitíssimas vezes têm-se a impressão de que ser cristão é, afinal, bem pouco diferente de não ser cristão, de que você não precisa pensar no cristianismo como uma vida estreita, mas como algo atraente, maravilhoso e emocionante, e de que entramos ali formando multidões. Isso não está de acordo com nosso Senhor. O Evangelho de Jesus Cristo é por demais honesto, para ficar dirigindo convites dessa natureza as pessoas. Ele não tenta persuadir-nos de que se trata de algo fácil, sendo que só mais tarde começaremos a descobrir quão difícil é realmente. O Evangelho de Jesus Cristo apresenta-se franca e incondicionalmente como algo que começa com uma entrada estreita, com uma porta estreita. . .


É-nos dito logo no início deste caminho da vida, antes de começarmos a marcha, que se queremos percorrê-lo há certas coisas que terão de ser deixadas de lado, para trás de nós. Não há espaço para elas passarem, porque temos que começar entrando por uma porta estreita e apertada. Gosto de imaginá-la como um torniquete. A porta é bem parecida com um torniquete que admite uma pessoa por vez, e somente uma. E é tão estreita que há certas coisas que você simplesmente não pode levar com você. Desde o começo o caminho é exclusivo, e importa que examinemos o Sermão da Montanha para vermos algumas coisas que é preciso deixar atrás.


A primeira coisa que deixamos para trás é o que se chama de mundanismo. Deixamos atrás a multidão, o modo de viver do mundo. . . O modo cristão de viver não goza de popularidade. . . Você não pode levar a multidão em sua companhia na carreira da vida cristã; esta, inevitavelmente, requer rompimento.

sábado, 30 de outubro de 2010

NÃO ANULE A FÉ


Pois se aqueles que são da lei é que são os herdeiros... O apóstolo argumenta, a partir de uma posição insustentável ou absurda, que a graça obtida por Abraão, procedente de Deus, não lhe fora prometida por meio de um acordo legal, ou com base nas obras. Ele procedeu assim porque, se essa fora a condição para que concedesse a honra da adoção a quem a mereça, ou a quem pratica a lei, ninguém ousaria alimentar qualquer confiança naquela adoção que lhe fora aplicada. E quem está consciente de tal perfeição que possa determinar que a herança lhe é devida pela justiça [procedente] da lei? Sua fé, portanto, seria anulada, porquanto a impossível condição não só manteria a mente humana em suspense e ansiedade, mas também a golpearia com o temor e o tremor. Dessa forma, o efeito das promessas se desvaneceria, visto que as mesmas são de nenhum valor exceto quando recebidas pela fé. Se nossos adversários tivessem condição de atentar para esta única razão, então a controvérsia suscitada entre nós seria facilmente elucidada.

Pois se aqueles que são da lei é que são os herdeiros, anula-se a fé e invalida-se a promessa, porque a lei suscita a ira; mas onde não há lei, também não há transgressão.(Rm 4.14,15)

O apóstolo se posiciona de forma axiomática, afirmando que as promessas de Deus serão ineficazes caso não as recebamos em plena convicção. O que aconteceria, porém, se a salvação tivesse por base a observância da lei? A consciência humana não teria certeza alguma, senão que viveria atribulada com incessante intranqüilidade, e finalmente sucumbiria em desespero. A promessa mesma, cujo cumprimento dependeria de uma impossibilidade, se desvaneceria sem produzir um fruto sequer. Fora, pois, com aqueles que ensinam deploravelmente ao povo a procurar para si salvação nas obras humanas, visto que Paulo expressamente declara que a promessa seria abolida se porventura dependesse ela das obras  [humanas].

Reconheçamos, pois, que quando pomos nossa confiança nas obras, a fé é reduzida a zero. Daqui também aprendemos o que é fé e o caráter que a justiça procedente das obras deve exibir, se porventura os homens são capazes de confiar nela em plena certeza.

O apóstolo nos afirma que a fé perece se porventura nossa alma não repousar serenamente na munificência divina. A fé, pois, não consiste no mero reconhecimento de Deus ou de sua verdade, nem mesmo consiste na simples persuação de que existe um Deus e de que sua Palavra é a verdade, senão que consiste no sólido conhecimento da divina misericórdia que se recebe do evangelho, e imprime a paz de consciência na presença de Deus e nele repousa. Portanto, a súmula desta questão é: se porventura a salvação depende da observância da lei, então não é possível que a mente repouse confiante nela; e deveras todas as promessas oferecidas a nós por Deus não terão qualquer efeito. E assim estaremos numa condição perdida e deplorável, se porventura somos remetidos às obras para encontrar nelas a causa ou a certeza da salvação.

Porque a lei suscita a ira. Esta é uma confirmação do último versículo, e é considerado pelo prisma do efeito oposto da lei. Visto que ela nada produz senão vingança, então não pode transmitir graça. E verdade que a lei tem o propósito de apontar ao homem o caminho da virtude e integridade; visto, porém, que ela ordena ao pecador corrupto a cumprir seus deveres sem supri-lo com o poder de fazê-lo, então o que ela faz é conduzi-lo a juízo, como culpado, perante o tribunal divino. Tal é a corrupção de nossa natureza, que quanto mais somos ensinados no que é certo e justo, mais abertamente a nossa iniqüidade e particularmente a nossa obstinácia são detectadas; e assim, o juízo divino cai sobre nós de forma ainda mais inexorável.

Pelo termo ira devemos entender o juízo divino, e freqüentemente leva esse significado. Aqueles que acreditam que a lei inflama a ira do pecador porque este odeia e execra o Legislador, sabendo que o mesmo se opõe às suas depravações, são em extremo ingênuos no que afirmam, porém seus argumentos não são suficientemente relevantes para a passagem em apreço. O uso comum da expressão, bem como a razão que Paulo imediatamente adiciona, põe em evidência que Paulo quer dizer simplesmente que é só condenação o que a lei traz sobre todos nós.

Mas onde não há lei, também não há transgressão. Esta é a segunda prova pela qual ele confirma sua declaração. De outro modo teria sido difícil perceber como a ira de Deus se inflama contra nós em virtude da lei se a razão para tal não fosse bastante evidente. A razão consiste em que quando recebemos o conhecimento da justiça divina pela instrumentalidade da lei, a mínima escusa agrava ainda mais o pecado contra ele. Aqueles que fogem de conhecer a vontade de Deus, merecidamente sofrem um castigo muito mais severo do que aqueles que o ofendem movidos pela ignorância. O apóstolo, contudo, não está a referir-se àquela simples transgressão da justiça da qual ninguém se vê isento; ao contrário, pelo termo transgressão ele quer dizer que o homem, havendo sido ensinado sobre o que agrada ou desagrada a Deus, consciente e voluntariamente transpõe as fronteiras prescritas pela Palavra de Deus. Numa só frase, transgressão, aqui, não é simples ofensa, mas significa uma obstinação espontânea em violar a justiça. A partícula no grego, “onde”, que tomo como advérbio, é traduzida por alguns comentaristas como cujus, do qual; a primeira tradução, porém, é mais apropriada e mais geralmente aceita. Qualquer tradução que seguirmos, o significado permanece o mesmo, ou seja: aquele que não é instruído pela lei escrita também não é culpado de transgressão demasiado séria, como aquele que obstinadamente quebra e transgride a lei de Deus.
- M. Lloyd-Jones

. . .trazemos à nossa lembrança a imporância vital da correta abordagem, pois esta é a chave que abre o entendi¬mento sobre a oração vitoriosa. Com freqüência se ouve dizer: «Você sabe, eu orei e orei, mas nada aconteceu. Carece que não encontrei paz. Nem sinto que tenha obtido qualquer satisfação com isso». Na maior parte dos casos, o problema se deve ao fato de que têm abordado erroneamente a oração. . . Inclinamo-nos por ser tão egocêntricos em nossas orações que quando dobramos os joelhos diante de Deus, só pensamos em nós mesmos e em nossos problemas e perplexidades. Já de partida nos pomos a falar dessas coisas, e decerto não acontece nada. . . Não é esse o modo de nos aproximarmos de Deus. Temos que fazer uma pausa antes de falarmos, na oração.

Os grandes mestres da vida espiritual, através dos séculos, sejam católicos-romanos ou protestantes, concordam . . .em que o primeiro passo da oração é sempre o que eles denominam de «recolhimento». Há um sentido em que toda pessoa, ao começar a orar a Deus, deve pôr a mão sobre a própria boca. Esse foi o problema de Jó. . . Ele achava que Deus não o tratara com bondade e se pôs a expressar livre¬mente os seus sentimentos. Mas quando. . . Deus começou a se entender com ele de perto, quando começou a revelar-se e a manifestar-se a Jó, que fez este? . . . Disse: «. . .Taparei com a mão a minha boca». E, por estranho que isso lhe pareça, você começa a orar nada dizendo; você medita naquilo que está para fazer.

Sei que é difícil. Somos apenas humanos, e somos pres¬sionados pela urgência da situação, pelos cuidados, ansie¬dades e problemas, pelas angústias mentais... E estamos tão cheios disso que, como crianças, começamos logo a falar. Mas se você quer estabelecer contato com Deus, e se você quer sentir os Seus braços eternos a envolvê-lo, tape a boca com a mão por uns instantes. Recolhimento! É isso: pare por um momento e lembre a si próprio aquilo que está prestes a fazer.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010


18 Outubro 2010

O desafio da perfeição – M. Lloyd-Jones


Tudo quanto fazemos neste mundo é de tremenda significação, e não podemos dar-nos o luxo de supor que não há risco. . . nosso Senhor. . . parte da questão relativa ao julgamento feito acerca de outras pessoas. Devemos ser cuida¬dosos quanto a isso, porque nós mesmos estamos sujeitos a juízo. Mas por que, então, nosso Senhor faz esta promessa, nos versículos 7-11 (de Mateus 7), nesse ponto? Por certo é esta a resposta: Nos versículos 1 a 6, Ele nos mostra o perigo de condenar a outrem, como se fôssemos nós os juízes, e de abrigar amargura e ódio no coração. Ele também nos manda tirar a trave do nosso olho, «antes de querer extrair o argueiro do olho do nosso irmão.

O efeito disso tudo, em nós, é revelar-nos a nós mesmos e mostrar-nos quão terrivelmente necessitamos da graça. . . ficamos humilhados e nos pomos a indagar: «Quem é suficiente para estas coisas? Como terei possibilidade de viver à altura de tal padrão?» . . .damo-nos conta de quão indignos e pecadores somos. E o resultado disso é que nos sentimos totalmente sem esperança nem socorro. Dizemos: «Como podemos viver segundo o Sermão da Montanha? Como pode alguém elevar-se ao nível de tal padrão? Precisamos de socorro e de graça. Onde obtê-los?» Eis a resposta: «Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á».

Essa é a conexão entre os dois trechos, e devemos dar graças a Deus por ela, porque, estando face a face com este glorioso Evangelho, temos de sentir-nos arruinados e indignos. Os insensatos que pensam no cristianismo somente em termos daquela pouca moralidade que eles mesmos podem produzir, nunca chegam a ver o que é o cristianismo. O padrão pelo qual somos confrontados é aquele que encontramos no Sermão da Montanha. Esse padrão esmaga a todos nós até ao chão, e somos levados a compreender nossa incapacidade e nossa desesperada necessidade de graça. Aí está a resposta; a solução nos está sendo oferecida. No versículo oitavo o Senhor repete a Sua oferta.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

– Lloyd-Jones

... o cristão e o não-cristão pertencem a dois domínios inteiramente diversos. . . a primeira coisa que você deve entender sobre si mesmo é que você pertence a um reino diferente. Você não difere apenas na essência; você vive. em dois mundos que diferem de modo absoluto entre si. Você está neste mundo; não pertence a ele, porém. . . você é cidadão doutro reino. . .

Que se quer dizer com este reino dos céus?... Significa, em sua essência, o governo de Cristo, ou a esfera e domínio em que Ele reina. . . Muitas vezes, quando Ele estava aqui, nos dias de Sua carne, nosso Senhor disse que o reino dos céus já estava presente. Onde quer que Ele estivesse presente e exercesse autoridade, ali estava o reino dos céus. Você recorda como, em certa ocasião, quando O acusaram de expulsar demônios pelo poder de Belzebu, Ele demonstrou-lhes a completa loucura disso, e prosseguiu, dizendo: «Se, porém, eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós» (Mateus 12.28).

Eis o reino de Deus. Sua autoridade e Seu reinado estavam presentes na prática. Eis, então, Sua frase, quando disse aos fariseus:«0 reino de Deus está dentro em vós», ou, «o reino de Deus está entre vós». Era como se dissesse: «Ele está-se manifestando no meio de vós. Não digais: olhe para cá, ou: olhe para lá. Despojai-vos dessa noção materialista. Aqui estou entre vós; estou realizando obras. O reino está aqui». Onde quer que o reino de Cristo esteja sendo manifestado, ali está o reino de Deus. E quando Ele enviou Seus discípulos para pregar, disse-lhes que falassem às cidades que não os recebessem: «Não obstante, sabei que está próximo o reino de Deus» (Lucas 10.11).

Antes de pedir – adore! – M. Lloyd-Jones


«Esta condição de ansiedade», diz Paulo, «é algo que em certo sentido está fora do seu controle, acontece sem a sua participação e apesar de você.» ... O coração e a mente estão fora do nosso controle. ... Aí «coração» não significa apenas sede das emoções; significa a parte verdadeiramente central da personalidade. «Mente» pode ser traduzido pelo termo «pensamento». ... O coração tem sentimentos e emoções. Se ura ente querido cai enfermo, como começa a trabalhar o coração! ... Não somente isso como também a imaginação! Que prolífera causa de ansiedade é a imaginação! ... Neste estado de ansiedade, passamos o tempo todo raciocinando, debatendo e correndo atrás de imaginações. E nesse estado somos inúteis. .., E assim, infelizmente, o nosso testemunho é vão. Não valemos nada para os outros e, sobretudo, perdemos o gozo do Senhor. ,..


Que havemos de fazer para evitar esse tumulto interior? . . . (Paulo) não diz: «Pare de afligir-se»... (pois isso) é inútil. Dá-se o caso de que também é má psicologia. . . . Do mesmo modo, a Bíblia não diz: «Não se aborreça; isso talvez jamais acontecerá» . . . quando me encontro nessas condições, minha reação é «Sim, mas pode acontecer»... todos esses métodos fracassam quanto ao enfrentar a minha situação porque nunca percebem o poder daquilo que Paulo chama «coração» e «mente» . . . (Paulo) aplica seu remédio na forma de uma injunção positiva. «Sejam conhecidas diante de Deus as vossas petições» (Filipenses 4.6) ... e ele nos deu instruções específicas para o cumprimento do seu mandado. ... Primeiro nos recomenda orar. ... Esta é a palavra mais geral e significa adoração e culto. Se você tem problemas que parecem insolúveis, se você está sujeito a se tornar ansioso e sobrecarregado, e alguém lhe diz que ore, não corra a Deus com sua petição. ... Antes de tornar conhecidas as suas petições diante de Deus, ore, cultue, adore. Entre na presença de Deus e por algum tempo esqueça os seus problemas. Não comece com eles. Trate de dar-se conta de que você está face a face com Deus.   

terça-feira, 26 de outubro de 2010

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Seu Diabo é Grande Demais - E. Lutzer

Mar 24

Essa é uma realidade na "igreja" dos nossos dias. O diabo é muito grande, se ficamos fascinados por ele; o diabo é muito grande, se achamos que temos de cumprir um compromisso com ele; o diabo é muito grande se somos vítimas de uma maldição, colocada sobre nós. O diabo é grande demais se vivemos com medo de que nosso futuro esteja em suas mãos...

O pecado aciona a lei das conseqüências não planejadas. Isso é verdade para nós, como para todas as criaturas de Deus.


Por que Satanás estava fadado ao fracasso? Ele era limitado para alcançar o que desejava.

O que Lúcifer esperava alcançar quando se rebelou contra Deus? Ele queria ser semelhante ao Altíssimo. Mas isso seria possível realmente?

Quando teólogos falam sobre Deus, usam três palavras que começam com o prefixo “oni” – que significa simplesmente “todo”. Deus é Onipresente, pois está presente em todos os lugares; Ele é Onipotente, pois é o Todo-poderoso; Ele é Onisciente, pois tem todo o conhecimento. Esses atributos são a própria essência da natureza de Deus.


Quantos desses atributos Lúcifer receberia, se conseguisse ser “semelhante a Deus”? A resposta é fácil e clara: Nenhum.

Ele jamais seria onisciente, ou seja, nunca poderia saber tudo. Ele sabia que um homem planejava assassinar o presidente dos Estados Unidos, quando chegasse a Dallas, Texas, no dia 22 de novembro de 1963. Ele não sabia, contudo, se isso realmente aconteceria. O assassino podia mudar de idéia, a arma podia falhar, ou talvez o motorista do carro, no último instante, resolvesse fazer um itinerário diferente. Deus sabe exatamente o que acontecerá, mas Satanás é capaz apenas de fazer uma previsão acurada. Embora conheça os planos, ele não sabe qual será o resultado final. Ele pode influenciar nas decisões humanas, mas nunca dirigi-las. ( O homem é escravo do pecado em seu próprio coração ) – Suas previsões mais insignificantes sempre envolvem o grande risco de jamais se concretizarem.

Isso explica por que, no Antigo Testamento, o reconhecimento de um falso profeta era feito às vezes pelo erro de suas previsões. Apesar de acertar algumas vezes, somente Deus pode prever o futuro de forma infalível. Portanto, um verdadeiro profeta de Deus sempre acerta 100% das vezes.

E quanto à onipresença? Lúcifer seria capaz de encher todo o universo com sua presença? Poderia estar em todos os lugares simultaneamente? Não, ele jamais conseguiria. Pode viajar rápido, mas quando se encontra na Índia, não consegue estar em Brasília. Quando trava uma batalha no Rio de Janeiro, não pode estar numa reunião de oração na Coréia. Portanto, nunca será onipresente.

É verdade que multidões de demônios estão espalhadas pelo mundo, realizando as obras do diabo, mas cada um desses anjos caídos também não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo.

E quanto a onipotência? Lúcifer nunca seria todo-poderoso. Ele não tem poder para criar nem uma molécula, muitos menos estrelas... Nem pode sustentar o Universo pela “palavra do seu poder”. Quando procura imitar a habilidade criadora de Deus, ele sempre apela para as fraudes e falsificações. Não, ele jamais será onipotente.

Em que sentido então ele poderia ser “semelhante ao Altíssimo”? Apenas nisso: ele achou que se tornaria INDEPENDENTE. Ele sabia que suas realizações sempre seriam apenas uma sombra daquilo que Deus pode fazer. A alegria, contudo, de saber que agiria sem a aprovação de Deus, fazia o risco valer a pena. Então poderia dar ordens e não mais recebê-las. Pelo menos esse era o seu plano.

A IRONIA é que na independência alardeada por Satanás, na realidade, tornar-se-ia outra forma de dependência à vontade e aos propósitos de Deus. Realmente, ele não dependeria da orientação do Todo-Poderoso nas decisões que tomasse, mas cada um dos seus atos de rebelião estaria debaixo do controle cuidadoso e da direção de Deus.

Ele, com certeza, podia desafiar o Criador, mas todas as suas atividades sempre seriam restritas àquilo que Deus permitisse. Sua independência só a muito custo poderia ser digna desse nome. Ele se rebelou para não ser mais um servo de Deus e, apesar disso, jamais conseguiu ou conseguirá sua independência.

Se Milton pensou estar certo ao dizer que Lúcifer preferiu ser rei no inferno do que servo no céu, ele (Lúcifer) estava completamente enganado. Lúcifer descobriu, para seu desgosto, que no final continuaria eternamente SERVO DE DEUS. E, como a Bíblia ensina claramente, NÃO EXISTEM REIS NO INFERNO!!!!

Aquele que odiava a idéia de servir, tornar-se-ia um outro tipo de servo. Ao invés do serviço voluntário, abraçaria uma servidão relutante, um serviço com uma motivação diferente em direção a um final diferente; mas, de qualquer maneira, SEMPRE UM SERVO. Finalmente como fazia quando ambos estavam em harmonia.

Satanás estava condenado a uma existência vazia, interminável, sem descanso, e miserável. Ele sempre seria impelido a desprezar a Deus e tentar agir contra Ele. Ainda assim, no final, seria compelido a promover os propósitos divinos. Ao invés da alegria na presença de Deus, teria eterna humilhação; no lugar do amor de Deus, receberia a ira e o juízo eternos.

O orgulho fez com que Lúcifer perdesse todos os seus privilégios. Ele assumiu um grande risco, ao achar que, se não pudesse destronar a Deus, pelo menos conseguiria estabelecer seu próprio trono, em algum lugar do Universo.

Ele subestimou a Deus e superestimou a si mesmo

ELE ERA LIMITADO NAQUILO QUE PODIA PREVER
Lúcifer sabia que surgiriam algumas conseqüências devido à sua decisão, mas não tinha idéia de como seriam. Lembre-se, até esse momento não havia nenhum tipo de rebelião no Universo. Ele não podia aprender com os erros dos outros; e uma vez que cruzou a linha, era muito tarde pra recuar de seu grande propósito. Mais importante, ele não podia prever o advento de Cristo para redimir o homem, nem podia contemplar sua própria condenação eterna no lago de fogo.

Ele não sabia que apenas um terço dos anjos escolheria se unir a sua causa rebelde (Ap 12.4 diz que a cauda do dragão “levou após si a terça parte das estrelas do céu” ). Se ele pensou que todos os que estavam sob sua autoridade ficariam ao seu lado em sua oferta de independência, teve de engolir essa decepção.

Pense nisso. Para cada anjo que o respeitava, dois continuaram fiéis a Deus! Talvez Satanás tenha ficado surpreso por ver como o Céu funcionava bem sem sua supervisão e autoridade. Não importa quão confiantemente ele exercia seu pode adquirido, pois seu sucesso era apenas parcial.

Durante um determinado tempo, ele só pôde remoer o seu erro. Só lhe restava aguardar que Deus desse o próximo passo.

ELE ERA LIMITADO NO CONTROLE DOS DANOS
Apesar de não termos dito explicitamente, existe pouca dúvida em minha mente de que Lúcifer lamentou profundamente sua decisão, no momento em que a mesma foi tomada. Ele havia atravessado um portal desconhecido, na esperança de que o abriria para um brilhante futuro, contudo, não sabia que havia um abismo do outro lado.

Então, tendo experimentado o pecado em primeira mão, ele sabia que perdera a maior aposta de sua carreira. Ele fez a “roda da fortuna” girar e não percebeu que Deus tinha o controle de cada uma das suas rotações. Em qualquer lugar que ela parasse, ele sempre seria o PERDEDOR – um perdedor por TODA ETERNIDADE.

Rapidamente, ele aprendeu que não é gratificante estabelecer um reino rival, só para descobrir que fatalmente falhar. Por mais agradável que seja a independência, não ajuda muito se você é independentemente DERROTADO, independentemente ATORMENTADO e independentemente ENVERGONHADO.

Se ele soubesse disso!! Ele pegou o trem errado, mas, depois de corrompido, seguiria adiante até o final. O arrependimento era impossível por várias razões:

PRIMEIRO, Satanás era e continua incapaz de se arrepender; O ARREPENDIMENTO É UM DOM DE DEUS, dado às pessoas em cujos corações o Todo-Poderoso já opera.

Para Satanás, arrepender-se significaria que existe algo de bom nele; mas nenhuma virtude pode ser encontrada no mesmo. Então, ele se tornou totalmente mau, irremediavelmente perverso. E Deus resolveu abandoná-lo, para o seu fim bem merecido.

Como já aprendemos, um Lúcifer perfeito deixou o mal brotar dentro de si, mas desde que a corrupção estava completa, o bem nunca mais existiria dentro dele. Quando era uma criatura perfeita, era capaz de cometer o mal, mas, uma vez que foi contaminado, ele jamais seria capaz de fazer o bem. A corrupção seria completa, irreversível e total. O pecado então se tornaria uma necessidade moral.

SEGUNDO e mais importante: mesmo que Lúcifer se arrependesse, ele não seria redimido, pois nenhum sacrifício foi feito pelos seus pecados. Cristo carregou apenas os pecados dos homens (eleitos ) e não os dos anjos. “Pois na verdade ele não socorre a anjos, mas sim à descendência de Abraão. Pelo que convinha que em tudo fosse semelhantemente aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, a fim de fazer propiciação pelos pecados do povo” (Hb 2.16,17).

Sem uma propiciação disponível, o comportamento rebelde de Lúcifer tornou-se então irrevogável e permanente. Daquele momento em diante, sua passagem pelo Universo seria em uma linha reta, direto para uma eternidade de vergonha e humilhação. Para ele, não haveria uma segunda chance.

Lúcifer aprendeu uma importante lição: uma criatura pode estabelecer uma confusão, mais jamais pode endireitar as coisas” A lei das conseqüências não planejadas seria sempre aplicada por toda a eternidade. Somente Deus pode, se assim desejar, conter ou reverter as conseqüências da desobediência.

ELE ERA LIMITADA NO CONHECIMENTO DE DEUS

Os atributos primários de Deus é sua santidade. Lúcifer, que desejou ser semelhante a Deus, na verdade permaneceria tão longe desse atributo, quanto seria possível estar.

Não sabemos o quanto Deus se revelava às criaturas angelicais, mas Lúcifer, acredito, devia conhecer suficientemente a Deus pra saber que Ele jamais dividiria sua glória com alguém. Quanto mais algo Lúcifer aspirasse subir, maior seria seu fracasso.

Será que ele julgou mal a Deus, ao achar que o amor do Todo-Poderoso suplantaria qualquer possibilidade de julgamento severo? Não sabemos, é claro, mas tenha em mente que Lúcifer conhecia apenas o perfeito amor de Deus. O conceito de justiça simplesmente não existia. Desde que não existia desobediência no Universo, não havia necessidade da demonstração da ira divina. Lúcifer não previu até onde Deus poderia ir pra preservar sua honra.

Lúcifer achava que conhecia a Deus, mas ainda tinha muito o que aprender. Se ele simplesmente tivesse confiado no que não conseguia entender e crido no que não podia saber por si mesmo, seu futuro teria sido diferente.
Agora que ele sabia mais sobre Deus, ERA TARDE DEMAIS.

ELE ERA LIMITADO PARA ENTENDER A DIFERENÇA ENTRE O TEMPO E A ETERNIDADE.
Lúcifer deveria saber que nenhuma exaltação momentânea pode compensar uma eternidade de HUMILHAÇÃO; ser adorado por um momento não pode compensar uma eternidade de desprezo; nenhum momento de excitação pode compensar uma eternidade de tormento. Uma hora no inferno fará com que a excitação de se opor a Deus se desvaneça no eterno esquecimento.

Eis aqui uma lição para nós. Nenhuma decisão pode ser considerada boa, se a eternidade prova que ela é ruim. Explicando melhor, nenhuma decisão nessa vida pode ser boa a não ser que se torne excelente na eternidade. Somente um ser que conhece o futuro e o passado pode prescrever o que é melhor para nós. Nós julgamos baseados no tempo, mas somente Deus pode revelar os julgamentos baseados na eternidade.

Daquele momento em diante, Lúcifer venceria apenas pequenas batalhas, mas seria forçado a perder a guerra. Se ele apenas tivesse levado Deus mais a sério, não teria subestimado a capacidade infalível do Todo-Poderoso de puni-lo. Se a grandiosidade do pecado é determinada de acordo com a grandiosidade do ser contra quem é cometido, Lúcifer então cometeu um ERRO GIGANTESCO.

E. Lutzer


Para Martinho Lutero, o triunfo da graça não ocorreu em um jardim, mas em um escritório. E a vitória não ocorreu principalmente sobre a lascívia, mas sobre o temor da ira de Deus. "Se eu pudesse acreditar que Deus não estava irado comigo, pularia de alegria". Ele podia ter falado "soberana alegria". Mas não conseguia acreditar nisso. E, em sua vida, o maior obstáculo não era uma concubina em Milão, na Itália, mas um texto bíblico em Wittenberg, na Alemanha. "Uma única palavra em [Rm 1.17], 'Visto que a justiça de Deus se revela no evangelho' (...) estava me detendo. Pois eu odiava aquela, palavra, 'a justiça de Deus"'. Ele aprendera que a "justiça de Deus" significava a justiça "com a qual Deus é justo e pune o pecador injusto". ' Isso não concedia nenhum alívio nem era evangelho. Enquanto Agostinho "arrancava [seus] cabelos e batia na testa com [seus] punhos cerrados" em desespero por causa da sua escravidão à paixão sexual, Lutero "se irava com uma consciência aterradora e perturbada... [e] persistentemente golpeava Paulo naquele lugar [em Rm 1.17], querendo entender ardentemente o que o apóstolo queria dizer".

Sua vitória aconteceu em 1518, não como acontecera com Agostinho, com o repentino cantar de uma criança, "Tome e leia", mas pelo estudo inexorável do contexto histórico-gramatical de Romanos 1.17. Esse estudo sagrado provou ser uma ferramenta preciosa da graça. "Finalmente, pela misericórdia de Deus, meditando de dia e de noite, dei atenção ao contexto das palavras, a saber:  'O justo viverá pela fé.' Então comecei a entender que a justiça de Deus é aquela pela qual o justo vive por um dom de Deus, em outras palavras, pela fé. Aqui senti como se tivesse nascido de novo e entrado no paraíso por portões abertos". Foi essa a alegria que transformou o mundo.

Justificação pela fé somente, sem as obras da lei, foi o triunfo da graça na vida de Martinho Lutero. Ele realmente ficou, por assim dizer, de pernas para o ar de alegria, e, juntamente com ele, o mundo inteiro foi revirado. Mas, com o passar dos anos, Lutero se convenceu cada vez mais de que havia algo mais profundo sob essa doutrina e o conflito dela com o aspecto meritório das indulgências e o purgatório. Mas, ao final, o que produziu a defesa mais ardente que Lutero fez da graça onipotente de Deus não foi a venda de indulgências de Johann Tetzel, nem a promoção da idéia do purgatório de Johann Eck. O que provocou Lutero acima de tudo foi a defesa do livre arbítrio feita por Erasmo de Roterdã.

Erasmo foi para Lutero o que Pelágio fora para Agostinho. Martinho Lutero admitiu que Erasmo, mais do que qualquer outro oponente, havia percebido que a impotência do homem diante de Deus, e não a controvérsia sobre as indulgências e o purgatório, era a questão principal da fé cristã.  Lutero escreveu seu livro A. escravidão da vontade, publicado em 1525, em resposta ao livro de Erasmo, A. liberdade da vontade. Para Lutero, esse livro que escrevera era o seu "melhor livro teológico e o único digno de ser publicado". E isso porque, no centro da teologia de Lutero, encontrava-se uma dependência completa da liberdade da graça onipotente de Deus para resgatar homens impotentes da escravidão que o livre arbítrio impõe. "O homem, por si só, não tem a capacidade de purificar seu próprio coração e produzir dons divinos, como um verdadeiro arrependimento de pecados, e, ao contrário do artificial, um verdadeiro temor de Deus, verdadeira fé, amor sincero. A exaltação, feita por Erasmo, do arbítrio decaído do homem como livre para superar seus próprios pecados e sua escravidão era, na mente de Lutero, uma confrontação à liberdade da graça de Deus e, portanto, um ataque ao próprio evangelho e, por fim, à glória de Deus. Assim, Lutero demonstrou ser um estudante fiel de Paulo e Agostinho até o fim.

John Piper

13 Agosto 2010

O Livro da Vida do Cordeiro – D. M. Lloyd-Jones

Não anuncie aos outros, de modo nenhum e de forma nenhuma, o que você faz. . . Nem mesmo o anuncie a você próprio. . . Observe que nosso Senhor não se detém ao dizer que você não deve tocar trombeta diante de você e proclamá-lo ao mundo; você nem o deve anunciar a você mesmo . . . havendo-o feito secretamente, não vá pegar o seu livrinho e anotar: «Bem, eu fiz isto. É claro que não contei a mais ninguém o que fiz» . . . Na verdade, eis o que disse nosso Senhor: «Não mantenha contabilidade nenhuma desse tipo; não escriture nenhum livro-razão espiritual; não mantenha contas de lucros e perdas em sua vida; não escreva um diário, nesse sentido; esqueça-o! .»

Qual é o resultado disso tudo? É glorioso. É assim que o Senhor o explica. Diz Ele: «Você não precisa manter a contabilidade. Deus o faz. Ele vê todas as coisas e registra tudo. E você sabe o que Ele vai fazer? Vai recompensá-lo publica¬mente» ... Se nós simplesmente esquecermos a coisa toda e fizermos tudo para agradá-lO, veremos que Deus tem uma contabilidade. Nada que tenhamos feito será esquecido; nosso ato mais diminuto será lembrado. Você se recorda do que Ele disse, em Mateus 25? «. . .estava. . . preso e fostes ver-me. . .» E eles perguntarão: «Quando foi que fizemos tudo isso? Não nos consta que o tenhamos feito». «Certamente que sim», Ele responderá; «está no Livro».

Ele guarda os livros. Devemos deixar com Ele a conta¬bilidade. «Você sabe», diz Ele, «você fez tudo secretamente; mas Eu o recompensarei abertamente. Pode ser que Eu não o recompense abertamente neste mundo, mas, tão certo como você vive, Eu o recompensarei publicamente naquele Grande Dia. . . em que será aberto o grande Livro. , . e Eu lhe direi: Muito bem, servo bom e fiel. . . entra no gozo do teu Senhor».

Livres dos desejos do pecado – M. Lloyd-Jones

(Desejar justiça) significa desejo de ser livre do pecado, porque o pecado nos separa de Deus. Positivamente, pois, significa desejo de ser reto para com Deus. . . Toda a dificuldade do mundo de hoje se deve ao fato de que o homem não é reto para com Deus, pois é porque ele não é reto para com Deus que anda por caminhos errados em tudo mais. . . Aquele que tem fome e sede de justiça percebe que o pecado e a rebelião o separaram da face de Deus e anela retornar àquele antigo relacionamento. . .

Mas também significa, necessariamente, o desejo de ficar livre do poder do pecado. . . O homem a quem estamos considerando. . . chegou a perceber que o mundo em que ele vive é controlado pelo pecado e por Satanás. . . Ele entende que «o deus deste mundo» o vem cegando. . . Quer libertar-se desse poder que o arrasta para baixo, a despeito dos esforços dele (ver Romanos 7). Quer ficar livre do poder, da tirania e da servidão do pecado. . .

Mas a coisa vai mais longe ainda. Significa o desejo de ficar livre do próprio desejo do pecado, pois vemos que aquele que verdadeiramente se examina a si próprio, à luz das Escrituras, não só descobre que está na escravidão do pecado; ainda mais horrível é o fato de que ele gosta do pecado, ele o deseja. Mesmo depois de ter entendido que é errado, ele o quer. Mas agora, o homem que tem fome e sede de justiça é aquele que quer desfazer-se daquele desejo do pecado, não somente exterior, mas também interiormente. . . O pecado é algo que polui a própria essência do nosso ser e da nossa natureza. Quem é cristão quer ficar livre disso tudo. . . Ter fome e sede de justiça é desejar libertar-se do ego, em todas as suas horríveis manifestações, em todas as suas formas. . . aquele que tem fome e sede de justiça. . . quer emancipar-se da preocupação egocêntrica, em todas as suas formas e medidas.

Nosso Companheiro de viagem – M. Lloyd-Jones


Não posso imaginar melhor, mais animadora e mais consoladora afirmação, com a qual enfrentar todas as incertezas e todos os riscos da nossa vida neste mundo limitado pelo tempo, do que a contida em Mateus 7, versículos 7-11. É uma daquelas promessas compreensivas e plenas de graça que só se encontram na Bíblia. . . esta é a promessa que nos alcança: «Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á» . . . Não há dúvida sobre ela; é certa; é uma promessa absoluta. . . feita pessoalmente pelo Filho de Deus, falando com toda a plenitude e autoridade do Pai.

De começo a fim a Bíblia nos ensina que essa é a única coisa que importa na vida. . . ela salienta que o que realmente importa na vida não é tanto a variedade de acontecimentos que nos sobrevêm. . . mas a nossa disposição para enfrentá-las. Em seu conjunto geral, o ensino bíblico quanto a como devemos viver é resumido naquele homem particular, que foi Abraão, de quem se nos diz: «Saiu, sem saber para onde ia». Não obstante, sentia-se perfeitamente feliz, em paz e repouso. Não tinha medo. Por que? Um velho puritano, que viveu há trezentos anos, responde por nós a pergunta: «Abraão saiu sem saber para onde ia; mas sabia com quem ia». É o que importa. . .

Não estava só; tinha junto de si Aquele que lhe dissera que nunca o deixaria nem o desampararia. E, embora não tivesse certeza quantos aos eventos que haveriam de vir a seu encontro, e quanto aos problemas que surgiriam, sentia-se perfeitamente feliz, porque sabia quem era seu Companheiro de viagem. O Senhor não promete mudar a vida para nós; não promete remover as dificuldades, problemas e tribulações; não afirma que extrairá todos os espinhos e deixar as rosas com seu inebriante perfume. Não. Ele encara a vida realisticamente, e nos adverte de que estamos sujeitos a essas coisas. Garante-nos, porém, que podemos conhecê-lo de tal modo que, haja o que houver, jamais precisaremos afligir-nos, nem ficar alarmados.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

nome e o poder do Seu nome – Martyn Lloyd-Jones

Como hei de fortalecer-me "no Senhor e na força do seu poder" na batalha real? Terei que fazer todas estas coisas, mesmo quando por algum tempo, o diabo me deixa em paz; mas que tenho de fazer em plena refrega? Como vou me fortalecer no Senhor e na força do Seu poder na luta renhida, no calor da batalha? Só menciono uma coisa por enquanto. E o uso do Seu nome. O uso do nome do Senhor é uma tremenda fonte de poder. Vemos isso também no livro de Provérbios, capítulo 18, versículo 10: "Torre forte é o nome do Senhor" - somente o Seu nome, lembrem-se! "Torre forte é o nome do Senhor; a ela correrá o justo, e estará em alto refúgio."

Mas há outros exemplos notáveis de como usar o Seu nome e o poder do Seu nome. Vocês se lembram da história de Gideão? Gideão era um simples João Ninguém. Vinha de uma tribo nada importante, e pertencia a uma das menores famílias daquela tribo. Entretanto Deus o chamou para levantar-se e lutar contra os midianitas;e eles tinham exércitos numero¬sos. Deus, porém, vocês se lembram, não permitiu que Gideão tivesse um grande exército. Deixou-o apenas com um punhado de homens - 300 - e os restantes foram mandados embora. Como foi que ele combateu? Confiou somente em sua própria força? Não, o seu grito de guerra foi -"Espada do Senhor e de G ideão". Aí está a nossa doutrina, perfeitamente ilustrada. Gideão não disse: "Homens, sigam-me; em nome de Gideão, vamos atacá-los. Eis aqui a espada de Gideão, sigam-me". Tampouco disse: "Espada do Senhor". Aí está o perfeito ensino escriturístico -"Espada do Senhor e de Gideão". "Confie em Deus e mantenha seca a sua pólvora!" Tanto a confiança como a pólvora entram. É a espada do Senhor- certamente; sem ela estamos perdidos. Sim, mas é a espada do Senhor, e a "de Gideão". E assim eles partiram para a batalha, combateram com todo o seu poder e força, e obtiveram uma grande vitória.

Mas o maior de todos os exemplos é, de muitas maneiras, o de Davi e Golias. Estes incidentes do Velho Testamento, além de constituírem história, são ao mesmo tempo parábolas perfeitas da grande verdade escriturística que nos está sendo ensinada aqui, em Efésios, capítulo 6, sobre estarmos "firmes contra as astutas ciladas do diabo" e sobre a nossa luta "contra os principados e potestades". Tudo isso nos é ensinado naquele quadro de Golias e Davi: a luta é desigual. Olhem para esse gigante. Ele vence todos os outros, ninguém pode resistir-lhe. Por outro lado, eis aí Davi, um simples rapaz. Não consegue mover-se com a armadura de Saul, não consegue manejar a espada de Saul. Ele tem uma funda e algumas pedras. Isso é tudo! Mas Davi triunfou, e isso porque enfrentou Golias segundo a piedade (I Samuel 17:45). "Davi porém disse ao filisteu"-que estivera ridicularizando Davi e tentando amedrontá-lo, aborrecê-lo e derrotá-lo antes de começar o confronto - "Tu vens a mim com espada, e com lança, e com escudo; porém eu venho a ti em nome do Senhor dos exércitos, o Deus dos exércitos de Israel, a quem tens afrontado. Hoje mesmo o Senhor te entregará na minha mão, e ferir-te-ei, e te tirarei a cabeça". Notem que Davi luta "em nome do Senhor, o Deus dos exércitos de Israel"; e no momento em que profere "o nome" ele se enche de confiança, força, poder e energia; e lhe é dada uma retumbante vitória.

Eliseu, no início da sua carreira, serviu-se do mesmo princípio. Elias tinha acabado de ir parao céu, e ali ficou Eliseu, diante do Jordão. Pouco antes ele tinha visto Elias agitar a capa e com ela dividir o rio; e ali ficou ele, enfrentando o momento da sua grande prova. Estará ele apto e forte o bastante para suceder Elias como profeta de Deus? Notem como ele encara a sua tarefa. Diz ele: "Onde está o Senhor, o Deus de Elias?" Esse deveria ser o grito de guerra da Igreja hoje, parece-me, combatendo como estamos os principados e as potestades. Tanto em geral como em particular, é isso que deveríamos dizer. Não temos por que ser fracos, hesitantes, frágeis e desanimados. Devemos dizer: "Onde está o Senhor, o Deus de Elias? Onde está o Deus de nossos pais, onde está o Deus dos reformadores, onde está o Deus dos puritanos, onde está o Deus dos primeiros metodistas? Onde está Ele, o Deus dos avivamentos? Em Seu nome podemos ser fortes e poderosos".

Passemos ao Novo Testamento. Vejam Pedro e João, nos primeiros dias da Igreja Cristã. Eles deparam com um coxo à Porta Formosado templo. Que é que eles devem fazer? Eis o que disse Pedro: "Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho isso te dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta--te e anda" (Atos 3:6). O nome! O poder do nome! Foram Pedro e João que de fato falaram e agiram, mas puderam fazê-lo porque usaram o poder do nome do Senhor. "Torre forte é o nome do Senhor" - sempre!

Observem o apóstolo Paulo escrevendo ao nervoso e amedrontado jovem Timóteo. Eleja lhe havia dito: "Sofre as aflições como bom soldado de Jesus Cristo". Ele dissera a Timóteo que juntasse as suas forças e seguisse adiante. Agora ele quer dar-lhe algo que realmente o encha de poder, pelo que diz: "Lembra-te de que Jesus Cristo, que é da descendên¬cia de Davi, ressuscitou dentre os mortos, segundo o meu evangelho" (2 Timóteo 2:8). Cristo não venceu somente os homens, não venceu somente o diabo, venceu a morte e o túmulo, o último inimigo. Ele é todo-poderoso. Lembrem-se disso! E ao lembrar-se disso, o homem se fortalece no Senhor e na força do Seu poder. O nome, a lembrança do poder e do efeito do nome do Senhor ressurreto faz maravilhas.

E assim eu leio no livro de Apocalipse, "Eles o venceram (o inimigo) pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho" (12:11). Eles ameaçaram o diabo com Ele, e com essa ameaça o venceram. Esta é a única maneira. Ah, sim, diz um homem séculos mais tarde:

Quão suave é o nome de Jesus Aos ouvidos do crente; Cura as tristezas e as feridas E expulsa o seu temor.

O nome o fortalece. O nome de Jesus o faz. "Quão suave é o nome de Jesus!" "Expulsa o seu temor." Você sabe usar este nome? Sabe invocá-lo? Sabe o que é ser fortalecido ao simples som dele? Ei-lo aqui de novo:

Forte no Senhor dos exércitos E no Seu grandioso poder, Quem confia em Cristo e em Sua força, Sim, é mais do que vencedor.

O cristão luta, mas confia neste nome, invoca-o, e ele o fortalece. E assim ele é "mais do que vencedor".

Espero que todos nós saibamos usar o nome do Senhor desta maneira. Isto sempre me faz pensar em algo que ouvi muitas vezes quando eu era menino. Tive o privilégio de ser criado num povoado, numa pequena comunidade onde todos nos conhecíamos. Às vezes um valentão amea¬çava um rapazinho, e este ficava aterrorizado porque não tinha nenhuma possibilidade contra o valentão. Que é que o rapazinho fazia? Bem, eis o que com freqüência eu ouvia: o rapazinho sabia que estava perdido, que não podia fazer nada; mas muitas vezes ele parava o valentão simplesmente dizendo: "Vou falar com meu pai sobre você", ou: "Se você me bater, vou contar ao meu irmão maior". E o valentão, por mais valentão que fosse, ficava com medo do nome do pai. E eu e você, em nossa fraqueza e incapacidade, devemos ameaçar o diabo com o nome do nosso Pai e do nosso bendito Senhor e Salvador. Ameace-o! "Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós." Diga-lhe: "Sei que sozinho não posso fazer nada contra você; mas, se você relar em mim, Ele me vingará". Ameace-o com o nome do Senhor. Ele é uma torre forte, e o justo corre para lá e fica a salvo. O nome não acrescenta nada à sua força, no sentido puramente físico e material, porém coloca força dentro de você infundindo-lhe confiança. O simples nome, a própria palavra, dá-lhe energia; você pode ameaçar o valentão que o está ameaçando, e você pode pô-lo a correr.

Este é um princípio que se vê em toda parte na vida. Ele explica por que um embaixador tem sucesso em seu trabalho. Ele mesmo não é nada, mas fala em nome do seu país, em nome do seu soberano, fala em nome dos poderes que estão por trás dele. A palavra é dele, todavia o poder é do seu país. E o outro país ouve a palavra de um homem porque sabe que ele é o representante do poder invisível, oculto e grandioso que está por trás dele.

Aí está, pois, um dos modos mais excelentes de ficar firme contra as astutas ciladas do diabo e ser mais do que vencedor. "Forte no Senhor e na força do seu poder." Conhecer o poder do Seu nome! "Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno", diga as eu inimigo, "deixe-me. Não pertenço a você, pertenço a Cristo, sou protegido por Ele". "Eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho." Queira Deus capacitar-nos a pôr em prática estas preciosas verdades, para que "possamos resistir no dia mau, e, havendo feito tudo, ficar firmes".

Os Perigos de Hoje – Lloyd-Jones

Na época em que Constantino introduziu o Império Romano na Igreja Cristã, por volta de 325 A.D., pode-se dizer que o cristianismo se helenizara. Era muito difícil reconhecê-lo como a mesma coisa que tinha começado no primeiro século, a Igreja do Novo Testamento. Tornara-se helenizado, tão permeado da influência da filosofia grega, que quase viera a ser o oposto do que era originariamente.

Pois bem, houve algumas pessoas que viram claramente esse perigo. Houve um grande homem na Igreja Cristã, por volta do ano 200 A.D., pouco antes, pouco depois, o homem chamado Tertuliano. Ele focalizou esse problema, esse perigo, colocando o que se tornou uma interrogação muito famosa. Foi esta: que é que Atenas tem a ver com Jerusalém? Que é que a academia tem a ver com a Igreja? Essa é a grande questão: que é que Atenas, o centro e o lar da filosofia, tem a ver com Jerusalém, o lar da Igreja? Que é que a academia e o pórtico, lugares onde os filósofos ensinavam, têm a ver com a Igreja Cristã? Se a Igreja daqueles dias tão-somente houvesse prestado atenção a essa pergunta! Mas, e nós? Estaríamos prestando atenção a ela hoje? O que está acontecendo hoje, como o vejo, é que "Atenas" está de volta, adentrando o movimento evangélico, a academia está vindo de volta para dentro da Igreja e das organizações cristãs. É sempre uma das coisas mais perigosas que podem acontecer, se não, na verdade, a mais perigosa de todas.

Por que isso? Por uma coisa, indica um espírito errôneo. Indica um espírito de temor. Por que há de haver essa tendência de trazer de volta a filosofia, o intelectualismo e a sabedoria do mundo para dentro da esfera do evangelho? A razão fundamental é que cristãos cultos estão com um pouco de medo de não serem considerados como intelectuais por serem cristãos. Não querem ser olhados de cima, não querem que as pessoas pensem que eles são cristãos simplesmente porque não são intelectuais. Ora, esse é um espírito de temor.

Ou, às vezes, ficam com medo de que se prove que eles estão errados. Eles dizem: se nós tomarmos a Bíblia como a Bíblia é e depois, de repente, um dia a ciência provar que algo que nós negamos é um fato, onde ficaremos ? Eles têm medo de que se prove que estão errados. Esse é, de novo, o espírito de temor.

Em acréscimo ao temor, há o orgulho do intelecto, orgulho do conhecimento. Fiquem de olho hoje na palavra "erudição". Erudição! Corremos grande e real perigo de prestar culto à erudição. Não me entendam mal. Não estou defendendo o obscurantismo; já o descrevi como um dos perigos. Não cabe ao cristão enterrar a cabeça na areia e dizer: contanto que eu tenha a minha fé, não me importa o que os outros pensem ou digam. Deixando de lado outras considerações, você é guardador do seu irmão; você tem um dever para com os outros. Se o homem tem cérebro, deve usá-lo, e se você tem conhecimento, ótimo! Não defendo o obscurantismo, mas digo que corremos o grave risco de cultuar a erudição.

Cruzei com um caso desses nesta mesma semana, num jornal que eu estava lendo. Cito-o porque ilustra muito bem essa tendência. Eu estava lendo um artigo escrito por um homem que estava explicando por que ele não acreditava no nascimento virginal. Ele não só não crê no nascimento virginal; não crê na infalibilidade das Escrituras, e se opõe fortemente à infalibilidade do papa. Mas foi isto que ele de fato disse. Ele estava citando uma afirmação daquele famoso erudito especialista no Novo Testamento, o finado professor T. W. Manson. Agora, o que estou dizendo não tem nada a ver com o professor Manson. Estou certo de que ele seria o primeiro a desdizer o tipo de declaração que eu vou citar. Aí está um homem muito competente, com seus estudos não somente em Oxford, mas também no famoso Union Theological Seminary de Nova Iorque. Ele escreve isto: "Discordar de um crítico tão capaz e culto com Manson é impossível". Você não deve crer na infalibilidade da Bíblia, você não deve crer na infalibilidade do papa, mas deve crer na infalibilidade do finado professor Manson. Por quê? Ah, ele era um erudito! Toda a honra ao finado professor Manson e a muitos outros grandes eruditos, mas nenhum deles é infalível.

E muito grave o que aquele homem escreve. Ele e os que são daquele modo de ver acusam-nos de bibliolatria. Eles dizem que nós fazemos da Bíblia um ídolo, que adoramos um ídolo, e que não se deve adorar ídolos. Concordo plenamente, porém chegou o tempo em que é nosso dever mostrar que a erudição também pode ser transformada em ídolo, e que a tal ponto você pode adorar a erudição que esta o leva a dizer que você não pode e não deve discordar de um homem como esse porque ele é muito competente e muito culto. Essa é a situação que vai se infiltrando entre nós. Estamos tão ansiosos por ser considerados intelectualmente respeitáveis, e com tanto receio de ser acusados de não sermos intelectuais, que corremos o grave perigo de, erroneamente, adorar a erudição, e de incorrer na culpa de orgulho intelectual.

Isso não somente leva a um espírito errado, mas também a ações erradas. Que é que estou querendo dizer? Quero dizer que, no momento em que você começar a pensar segundo essas linhas, logo estará desejando usar grandes nomes e, para empregar uma expressão bíblica, você estará muito pronto a "lançar mão" apressadamente de certas pessoas. Vocês já notaram a tendência que avança entre nós, de recorrer a qualquer homem que sej a proeminente nalguma esfera da vida, que mesmo vagamente insinue que é cristão, e particularmente se ele obteve distinção numa das profissões liberais ou se recebeu altas honras acadêmicas? Se ele faz uma declaração mesmo vagamente cristã, lançamos mão dele e lhe pedimos que presida à próxima reunião pública.

Parece que não nos preocupamos mais se o homem tem realmente a nossa posição evangélica conservadora. Ele é um grande nome - essa parece ser a grande consideração. Essa é uma das coisas às quais essa atitude leva; e isso apesar do fato de que é especificamente proibida nas próprias Escrituras.

Outra coisa a que isso leva é o que sou constrangido a descrever como "mania de graduação". De novo, não sou contra as gradua¬ções acadêmicas; elas têm valor. Não há nada de errado em se terem graus acadêmicos, todavia se vocês vão avaliar um homem como cristão, e a sua eficiência na igreja, por meio dos seus graus acadêmicos, bem, a primeira coisa que vocês terão que fazer é pôr de lado o homem cuja memória estamos honrado aqui esta noite, e muitos outros que eu poderia mencionar. A coisa é esquisita e até mesmo tola, sem levar em conta o contraste que apresenta aos homens incultos e ignorantes de Atos 4:13.
Mais um perigo terrível - e muito sério neste país hoje - é que essa tendência de adorar a erudição está nos levando a uma situação na qual todo o preparo para o ministério é determinado por universidades seculares. Não posso imaginar nada que se encaixe tão diretamente na categoria de combater este combate com armas carnais.

A terceira coisa que isso faz, e esta é a mais grave de todas, é que compromete a verdade. No momento em que você começar a pensar em termos da sabedoria e do conhecimento do mundo, e do entendimento intelectual e da erudição, não será tão cuidadoso como devia ser na tradução das Escrituras. Você estará mais interessado no fato de que os eruditos a fizeram, e que é nova e atualizada, do que na sua exatidão e na sua espiritualidade. Não seriam estes verdadeiros temas vivos entre nós? Qual seria o nosso teste de carbono de uma tradução? E porque ela é nova? Tem que ser boa porque é nova, e porque é resultado da mais recente erudição? É essa a garantia? Estes são alguns dos efeitos e resulta¬dos de se pensar do jeito errado.

Outra coisa que isso faz é que tende a fazer-nos ir além das Escrituras. Em nosso desejo de explicar tudo, em nosso desejo de acomodar-nos aos de fora, fazemos afirmações que vão além das Escrituras; em vez de dizer simples e honestamente, eu não sei; não posso entender tudo, nem explicar tudo; isso é tudo o que eu sei. Hoje há uma tendência de se tentar explicar coisas que não se pode explicar.

Outro perigo mais é o de fazer exagerada concessão ao conhecimento moderno e às teorias e especulações modernas, conceden¬do tanto que finalmente se acaba contradizendo algumas das doutrinas vitais da Bíblia e da fé cristã. Estou pensando em coisas como fazer concessões demais com relação aos primeiros capítulos de Gênesis, concessões demais à teoria da evolução. Por que é que eu digo que isso é perigoso? Porque envolve toda a doutrina do homem, e a doutrina da Queda. Essa, por sua vez, envolve a doutrina da redenção e da salvação e, na verdade, da Pessoa do Senhor Jesus Cristo. Estes são alguns dos terríveis perigos.

Outro perigo é o de encontrar explicação para tudo. Houve um notável exemplo disso há não muito tempo, quando um homem publicou um livro intitulado, The Bible Is True (A Bíblia É Verdadeira). Foi um dos livros mais vendidos. Por quê? Porque no livro esse homem estava dizendo que agora podia crer em muita coisa da Bíblia em que antes ele não podia crer. Agora ele podia crer nalgumas coisas relatadas como milagres. Um exemplo foi o incidente no qual Moisés feriu a rocha e jorrou água. Disse ele que sempre tivera dificuldade com isso, mas agora podia acreditar. Por quê? Bem, porque na última guerra um soldado britânico, na Palestina, estava usando uma picareta de duas pontas e, acidentalmente, ao levantar a picareta para dar com ela no solo, bateu numa rocha que estava atrás dele, e escorreu um pouco de água. Portanto, vocês vêem, a Bíblia é verdadeira; agora se pode aceitar os milagres! Lembro-me de que uma vez um homem me contou, com grande entusiasmo, que o seu pastor o agradara tremendamente na noite do domingo anterior porque agora ele acreditava na destruição de Sodoma e Gomorra como a Bíblia a ensina. O pastor tinha lido num artigo que os geólogos tinham descoberto que, geologicamente, havia certas substâncias no solo daquela parte do mundo, o que agora capacitava a gente a entender como sucedera a destruição daquelas cidades. O que essas pessoas não compreendem é que, com a explicação dos milagres, você elimina os milagres. Você parece muito culto, parece capaz de ser científico e, ao mesmo tempo, crê em milagres, entretanto, o que você fez realmente foi acabar com os milagres. É exatamente como o apóstolo diz com relação à pregação da cruz. Se você procura explicar a cruz em termos de algo belo, ou de uma maravilhosa ilustração do pacifismo, você, com a sua filosofia, tornou "vã" a cruz de Cristo.
   
espírito de Perdão – M. Lloyd-Jones
A prova de que você e eu fomos perdoados é que nos perdoamos a outros. Se achamos que os nossos pecados foram perdoados por Deus e nos recusamos a perdoar a alguém, estamos cometendo um erro: nunca fomos perdoados. Aquele que sabe que, unicamente mediante o sangue que Cristo derramou, foi perdoado, forçosamente perdoa os seus semelhantes. Ele não pode evitar fazer assim. Se realmente conhecemos a Cristo como o nosso Salvador, os nossos corações estão quebrantados e não podem ser duros, e não podemos negar perdão. Se você negar perdão a alguém, sugiro que talvez você nunca foi perdoado.

Toda vez que me vejo diante de Deus e me dou conta, ainda que pobremente, daquilo que o meu bendito Senhor fez por mim, fico pronto a perdoar qualquer coisa e a qualquer pessoa. Não posso recusar esse perdão, nem quero mesmo recusá-lo. . . Ore a Deus e diga: «Perdoa-me, ó Deus, como eu perdôo aos outros por causa daquilo que Tu fizeste por mim. Tudo o que peço é que me perdoes do mesmo modo; não no mesmo grau, porque tudo que eu faço é imperfeito. Do mesmo modo, por assim dizer, que Tu me perdoaste, eu estou perdoando a outros. Perdoa-me, como eu os perdôo em razão do que a cruz do Senhor Jesus Cristo fez no meu coração».

Esta petição está transbordante da expiação, da graça de Deus. Vemos quão importante ela é pelo fato de que nosso Senhor realmente a repete. . . (nos versículos 14 e 15 — de Mateus 6): «. . .se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, tão pouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas». O fato é absoluto e inevitável.

O verdadeiro perdão quebranta o homem, e ele forçosamente é levado a perdoar. Assim, quando proferimos esta oração, pedindo o perdão, nós estamos testando a nós mesmos nesse assunto. A nossa oração não será genuína, não será verdadeira, não terá valor nenhum, se não houver perdão em nosso coração. Queira Deus dar-nos a graça de sermos honestos para conosco mesmos.