sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011


Chamado ao Avivamento!


A igreja, dizem eles, deve fazer todas essas coisas, mais especialmente com o fim de atrair os jovens e segurá-los. Agora, a questão importante não é o que pensamos dessas coisas propriamente ditas, mas é: a igreja teria alguma coisa a ver com essas questões? Que é a Igreja no Novo Testamento? Há somente uma reposta para essa pergunta- é uma comunhão de santos. O que vemos ali é certo número de pessoas reunindo-se com um propósito especial. Quem são essas pessoas? Que é que os reúne? Que interesse comum é tão forte em seus corações que muitas vezes arriscam suas vidas para estar presentes em tais reuniões? São pessoas diferentes das outras, pessoas que, segundo o apóstolo Paulo, foram tiradas do mundo e separadas da sociedade; pessoas que provaram coisas das quais o mundo nada sabe; pessoas que tiveram uma experiência da graça de Deus no Senhor Jesus Cristo; pessoas que já passaram a ver que a coisa mais importante da vida é ter conhecimento de Deus, numa relação que esteja de acordo com os Seus mandamentos. Viram o seu lastimável e desesperado estado diante de Deus, mas também viram Deus perdoando todos os seus pecados em Jesus Cristo. Estão cientes de uma nova vida e de um enobrecedor poder que as torna mais que vencedoras - mesmo quando se vêem face a face com as tentações e provações da vida. Tudo é novo para elas, e elas vêem a vida neste mundo como uma peregrinação rumo a Deus e ao céu. Elas não desprezam o mundo, todavia não vivem para ele, nem por causa dele. "Porque não temos aqui cidade permanente", dizem elas, "mas buscamos a futura" (Hebreus 13:14).

Esses cristãos se reúnem - por qual razão? Para prestar culto a Deus, para louvar o Seu bendito Nome, para agradecer-Lhe a graça que levou ao perdão dos pecados, e a uma nova vida em Cristo. Também se reúnem para poderem conhecê-lO melhor e para virem a entender mais facilmente a Sua providência. Têm fome e sede de justiça. Também têm sede do genuíno leite da Palavra, e não há nada que apreciem mais do que estudar a Palavra e ouvi-la proclamada. Sentem-se fortemente impulsionados a encontrar-se uns com os outros para poderem permutar experiências, para se ajudarem mutuamente a deslindar muitos problemas, e a estimular-se uns aos outros a que prossigam. Todos eles têm a mesma experiência básica, todos eles marcham na mesma direção. Acham, pois, "amável a companhia dos irmãos que fixaram os seus semblantes no rumo daquele país". A igreja é um lugar onde eles narram a "Sua fidelidade aos que se acham no deserto ardente", e onde eles gostam de falar "do fim da jornada". Esta é a descrição que temos no Novo Testamento, o retrato que tem sido visto centenas de vezes desde aquele tempo na vida da Igreja. A Igreja retrata uma coleção de pessoas, das quais se pode dizer: "Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz" (1 Pedro 2:9). Ninguém mais tem direito de ser membro da sociedade.

Posso imaginar alguém fazendo a pergunta: se a Igreja é esse tipo de sociedade, que esperança você pode ter de conseguir que as pessoas entrem? Esses critérios não atraem os homens hoje em dia; não é esse o campo de estudos deles; eles não têm interesse por esse tipo de coisa. Não seria melhor alcançá-los seguindo linhas de interesse comum e em termos das coisas que os atraem naturalmente? A questão não tem nada de novo. E simplesmente a velha questão concernente à autoridade da Igreja.

Alguns procuram autoridade, como vimos, em cerimônias e em ritos religiosos; outros a procuram na tradição, e ainda outros no sacerdócio e no governo especial da Igreja. Alguns acham que a autoridade da Bíblia está em nossa resposta a ela. Não temos tempo de sopesar estas idéias aqui, mas devemos declarar sem temor e com fervor que a Igreja não achará por esses meios a autoridade de que necessita para falar ao mundo e para fazê-lo ouvir. A Palavra é da máxima importância, porém o único poder que confere autoridade é o Espírito Santo. Este é o segredo do estranho sermão que o apóstolo Pedro pregou no dia de Pentecoste, em Jerusalém, e dos incríveis resultados que se seguiram. Paulo fala em termos semelhantes: "A minha palavra, e a minha pregação, não consistiu em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder; para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus" (1 Coríntios 2:4-5). Essa é a história que se vê através das eras e em todos os períodos de avivamento e de despertamento. O mundo não era melhor nem estava mais desejoso de ouvir a mensagem do evangelho no início do século dezoito do que hoje. Não podemos explicar só em termos de homens os eventos que se deram na história da religião em Gales. Todos eles têm uma só explicação - Daniel Rowland, Howell Harris e William Williams de Pantycelyn eram homens que falavam "como tendo autoridade" (Mateus 7:29). A mesma característica está presente com os puritanos, nos pais protestantes, em Savonarola e em todo aquele que foi usado por Deus para revivificar a religião em sua geração. Quando "o elemento vida" vem à Igreja, o mundo começa a ouvir, e o povo se aglomera. Então o problema será, não como conseguir gente para vir ouvir, mas como achar recinto para todos os que vêm. O mundo está ansioso para reconhecer a diferença entre a voz do homem e a voz de Deus, e por fim não se dispõe a ouvir coisa alguma senão a Sua voz.

Portanto, não nos é difícil responder a próxima pergunta: para que somos chamados hoje? E óbvio que devemos concentrar as nossas energias na Igreja, e que a maior necessidade é o avivamento e o despertamento da Igreja. E nela, e muitas vezes por meio de indivíduos pertencentes a ela, que os grandes movimentos espirituais sempre tiveram início. Quando a Igreja age no poder e na força do Espírito Santo, faz mais num dia do que doutro modo faria em anos por meio de todas as suas atividades, sem o Espírito. Finalmente, todos os nosso temores pelo futuro da Igreja e da religião, o nosso sentimento de desesperança ao vermos o mundo afundando cada vez mais no pecado e na vaidade, a nossa inclinação para multiplicar organizações, comitês e movimentos brota da mesma cegueira, a saber, a nossa falta de fé nas operações do Espírito Santo.

Então, que podemos fazer? A primeira coisa é compreender que nunca podemos criar um avivamento; todavia, depois de chegarmos a esse ponto, temos muito para fazer.

Se eu tivesse que expressar tudo isso numa só sentença, eu diria que o que é necessário é que esqueçamos completamente o século dezenove e que façamos um minucioso estudo do princípio do século dezoito. Se fizéssemos isso, aprenderíamos lições muito especiais. Acima de tudo o mais, veríamos que o primeiro passo não é rebaixar, mas sim, elevar o padrão requerido dos membros da Igreja. Devemos recapturar a idéia de que ser membro da Igreja é ser membro do corpo de Cristo, e de que esta é a maior honra que pode vir ao encontro do homem neste mundo. Por meio da disciplina, devemos aclamar a relação de membro da comunidade e devemos tornar a ressaltar a verdade de que Deus dá o Espírito Santo somente "àqueles que lhe obedecem" (Atos 5:32). A necessidade não é de aumentar a atração, mas proclamar que "estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida" (Mateus 7:14). Possivelmente, isto significa que muitos recuarão das igrejas e as abandonarão; e do ponto de vista da estatística, dos relatórios e das coletas, tudo parece sem esperança, e os que procuram manter vivas as igrejas temem. Contudo, igualmente certo, a Palavra do Senhor se cumprirá: "qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará" (Lucas 9:24). Como Paulo em Atenas, há muito tempo, devemos compreender que a nossa obra não consiste em argumentar acerca da verdade, e sim, declará-la e proclamá-la com autoridade. Não devemos somente fazer que o povo venha a ter interesse pela verdade, e apelar apenas para as suas mentes; não é esse o nosso dever, mas, antes, é despertar as suas consciências proclamando o juízo de Deus sobre o pecado e a ira de Deus contra "toda a impiedade e injustiça dos homens" (Romanos 1:18), e exortá-los a fugirem da ira vindoura. Devemos convencer os homens da verdade da extrema importância do lado espiritual da vida, de um mundo eterno e de um destino eterno. Ninguém verá a necessidade que tem do Senhor Jesus Cristo como Salvador, senão a pessoa que se viu a si mesma como perdida diante de Deus; e o único motivo verdadeiro para ter-se uma vida moral e digna é a gratidão a Deus e a percepção de que um dia estaremos diante dEle.

Este é o chamamento dirigido aos religiosos hoje: devemos tomar consciência da nossa indignidade perante Deus, da distância que nos separa dos santos das eras passadas, da nossa terrível dessemelhança dos cristãos do Novo Testamento; depois devemos arrepender-nos e reconsagrar-nos a Deus em Cristo, e devemos assegurar-nos de que a religião regule as nossas vidas. Mais do que qualquer coisa, porém, devemos aperceber-nos de que o estado do mundo é tal, que nada, senão o poder do Espírito Santo pode curá-lo, e a tal ponto devemos sentir isso, que sejamos levados a dobrar os joelhos em oração a Deus, rogando-Lhe que, em Sua misericór¬dia, Ele olhe para nós com piedade e, por Seu grande nome, envie um poderoso avivamento entre nós. Esse é o único meio, essa é a única esperança, porque aos homens é impossível, mas não a Deus, pois "a Deus tudo é possível" (Mateus 19:26).


desafio da perfeição. Pr. Paulo Junior

Tudo quanto fazemos neste mundo é de tremenda significação, e não podemos dar-nos o luxo de supor que não há risco. . . nosso Senhor. . . parte da questão relativa ao julgamento feito acerca de outras pessoas. Devemos ser cuida¬dosos quanto a isso, porque nós mesmos estamos sujeitos a juízo. Mas por que, então, nosso Senhor faz esta promessa, nos versículos 7-11 (de Mateus 7), nesse ponto? Por certo é esta a resposta: Nos versículos 1 a 6, Ele nos mostra o perigo de condenar a outrem, como se fôssemos nós os juízes, e de abrigar amargura e ódio no coração. Ele também nos manda tirar a trave do nosso olho, «antes de querer extrair o argueiro do olho do nosso irmão.

O efeito disso tudo, em nós, é revelar-nos a nós mesmos e mostrar-nos quão terrivelmente necessitamos da graça. . . ficamos humilhados e nos pomos a indagar: «Quem é suficiente para estas coisas? Como terei possibilidade de viver à altura de tal padrão?» . . .damo-nos conta de quão indignos e pecadores somos. E o resultado disso é que nos sentimos totalmente sem esperança nem socorro. Dizemos: «Como podemos viver segundo o Sermão da Montanha? Como pode alguém elevar-se ao nível de tal padrão? Precisamos de socorro e de graça. Onde obtê-los?» Eis a resposta: «Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á».

Essa é a conexão entre os dois trechos, e devemos dar graças a Deus por ela, porque, estando face a face com este glorioso Evangelho, temos de sentir-nos arruinados e indignos. Os insensatos que pensam no cristianismo somente em termos daquela pouca moralidade que eles mesmos podem produzir, nunca chegam a ver o que é o cristianismo. O padrão pelo qual somos confrontados é aquele que encontramos no Sermão da Montanha. Esse padrão esmaga a todos nós até ao chão, e somos levados a compreender nossa incapacidade e nossa desesperada necessidade de graça. Aí está a resposta; a solução nos está sendo oferecida. No versículo oitavo o Senhor repete a Sua oferta.

Humilhe-se! - Pr. Paulo Junior


Humilhe-se à vista de Deus
A palavra hebraica «aviva» tem o sentido primário de «preservar», ou «manter vivo». O que Habacuque temia grandemente era que a Igreja estivesse sendo totalmente des­truída. Daí orava: «Preserva-a, ó Deus, mantém-na viva, não permitas que ela seja derrotada». Entretanto, avivar não signi­fica somente manter vivo ou preservar, mas também purificar e corrigir, despojar-se do mal. Este é sempre um acompa­nhamento essencial, toda vez que Deus promove avivamento. 
Na historia de cada reavivamento lemos sobre a ação de Deus, purificando e eliminando o pecado, a impureza e as coisas que estavam embaraçando a Sua causa. . . enquanto a Igreja está sendo preservada, purificada e corrigida, ao mesmo tempo está sendo preparada para a libertação^ O profeta olha para a calamidade que se aproxima, e diz: «Õ Senhor, ainda que devamos ser punidos, prepara-nos para a libertação que há de vir. Faze a todo o Teu povo digno das Tuas bênçãos». . .
O apelo final de Habacuque é deveras tocante (capítulo 3, versículo 2) — «na tua ira», diz ele, «lembra-te da miseri­córdia» . . . Não pede a Deus que se lembre do Seu povo por causa de quaisquer méritos deles. . . A única coisa que ele faz é pedir a Deus que se lembre de Sua natureza e daquele outro lado do Seu santo Ser — a Sua misericórdia. E como se dissesse: «Tempera a ira com a misericórdia. Nada temos para dizer, exceto pedir-Te que ajas de acordo contigo mesmo, que em meio à ira tenhas piedade de nós».

Temos aqui a oração modelo para uma época deste..* Em todos os nossos «dias nacionais de oração», durante a últi­ma guerra, parecia haver a presunção de que nós estávamos certos e de que tudo que tínhamos a fazer era pedir a Deus que derrotasse os nossos inimigos que, só eles, estavam errados. Tinha-se a impressão que não havia lugar para ne­nhuma humilhação veraz ou confissão de pecado. . . 

A men­sagem deste livro (Habacuque) é que, enquanto não nos humilharmos verdadeiramente. . . enquanto não nos encarar­ mos a nós mesmos como somos aos olhos de Deus. . . não temos direito de procurar paz e felicidade. Enquanto o mundo não aprender estas poderosas lições da Palavra de Deus, não haverá esperança para ele.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011


Pastores e lobos têm algo em comum: ambos se interessam pelas vidas das ovelhas, e vivem perto delas. Assim, muitas vezes, pastores e lobos nos deixam confusos para saber quem é quem. Isso porque lobos desenvolveram uma astuta técnica de se disfarçar em ovelhas interessadas no cuidado de outras ovelhas. Parecem ovelhas, mas são lobos.

No entanto, não é difícil distinguir entre pastores e lobos. Urge a cada um de nós exercitar o discernimento para descobrir quem é quem.
Pastores buscam o bem de suas ovelhas; lobos buscam os bens das ovelhas.

Pastores gostam de convívio; lobos gostam de reuniões. Pastores vivem a sombra da cruz; lobos vivem a sombra de holofotes.

Pastores choram pelas suas ovelhas; lobos fazem suas ovelhas chorar. Pastores tem autoridade espiritual; lobos são autoritários e dominadores. Pastores tem esposas; lobos têm co-adjuvantes.

Pastores tem fraquezas; lobos são poderosos. Pastores olham nos olhos; lobos contam cabeças. Pastores apaziguam as ovelhas; lobos intrigam as ovelhas.Pastores tem senso de humor; lobos se levam a sério.

Pastores são ensináveis; lobos são donos da verdade. Pastores tem amigos; lobos têm admiradores. Pastores se extasiam com mistério; lobos aplicam técnicas religiosas.

Pastores vivem o que pregam; lobos pregam o que não vivem.
Pastores vivem de salários; lobos enriquecem. Pastores ensinam com a vida; lobos pretendem ensinar com discursos.

Pastores sabem orar no secreto; lobos só oram em público. Pastores vivem para suas ovelhas; lobos se abastecem das ovelhas. Pastores são pessoas humanas; lobos são personagens religiosos caricatos.

Pastores vão para o púlpito; lobos vão para o palco. Pastores são apascentadores; lobos são marqueteiros.Pastores são servos humildes; lobos são chefes orgulhosos.

Pastores se interessam pelo crescimento das ovelhas; lobos se interessam pelo crescimento das ofertas.

Pastores apontam para Cristo; lobos apontam para si mesmos e para a instituição. Pastores são usados por Deus; lobos usam as ovelhas em nome de Deus. Pastores falam da vida cotidiana; lobos discutem o sexo dos anjos.

Pastores se deixam conhecer; lobos se distanciam e ninguém chega perto. Pastores sujam os pés nas estradas; lobos vivem em palácios e templos. Pastores alimentam as ovelhas; lobos se alimentam das ovelhas.

Pastores buscam a discrição; lobos se autopromovem.Pastores conhecem, vivem e pregam a graça; lobos vivem sem a lei e pregam a lei.

Pastores usam as escrituras como texto; lobos usam as escrituras como pretexto. Pastores se comprometem com o projeto do reino; lobos têm projetos pessoais. Pastores vivem uma fé encarnada; lobos vivem uma fé espiritualizada.

Pastores ajudam as ovelhas a se tornarem adultas; lobos perpetuam a infantilização das ovelhas. Pastores lidam com a complexidade da vida sem respostas prontas; lobos lidam com técnicas pragmáticas com jargão religioso.

Pastores confessam seus pecados; lobos expõem o pecado dos outros.Pastores pregam o Evangelho; lobos fazem propaganda do Evangelho.Pastores são simples e comuns; lobos são vaidosos e especiais.

Pastores tem dons e talentos; lobos têm cargos e títulos. Pastores são transparentes; lobos têm agendas secretas. Pastores dirigem igrejas-comunidades; lobos dirigem igrejas-empresas.

Pastores pastoreiam as ovelhas; lobos seduzem as ovelhas. Pastores trabalham em equipe; lobos são prima-donas. Pastores ajudam as ovelhas a seguir livremente a Cristo; lobos geram ovelhas dependentes e seguidoras deles.

Pastores constroem vínculos de interdependência; lobos aprisionam em vínculos de co-dependência. Os lobos estão entre nós e é oportuno lembrar-los do aviso de Jesus Cristo.

*Guardai-vos dos falsos profetas, que vêem a vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores*". (Mateus 7:15)

 

As leis do perdão – Martyn Lloyd-Jones

Alguns dizem. . . «Não diz nosso Senhor: Se, porém, não perdoardes aos homens, tão pouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas? E isso não é lei? Onde está a graça aí? Dizer-nos que se nós não perdoarmos não seremos perdoados, não é graça». Assim, parecem capazes de provar que o Sermão da Montanha não se aplica a nós. Mas se você disser isso, terá que tirar dos evangelhos quase todo o cristianismo. Lembre-se também que o Senhor ensinou exatamente a mesma coisa na parábola do credor incompassivo que ofendera a seu amo, parábola registrada na parte final do capítulo 18 do Evangelho segundo Mateus.

Esse homem procurou o seu amo e lhe rogou que o perdoasse; e este o perdoou. Mas o perdoado negou-se a perdoar um subalterno que lhe era devedor, resul¬tando disso que o seu senhor retirou-lhe o perdão e o puniu. Nosso Senhor comenta o caso: «Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão». O ensino é idêntico em ambos os casos. Mas esse ensino significa que eu sou perdoado somente porque perdoei? Não.

O ensino é — e devemos levá-lo a sério — que se eu não perdoar, não sou alguém que foi perdoado. . . o homem que se reconhece culpado, vil pecador perante Deus, sabe que sua única esperança do Céu reside no fato em que Deus o perdoou livremente. O homem que de fato vê, sabe e crê isto não é capaz de recusar perdão a outrem. Deste modo, aquele que não perdoa ao próximo não conhece o perdão como sua experiência pessoal. Se meu coração já foi quebrantado na presença de Deus, não posso negar-me a perdoar; e, portanto, digo a qualquer pessoa que credulamente imagina que seus pecados devem ser perdoados por Cristo, apesar de não ter perdoado a ninguém: «Cautela, amigo, para evitar que você acorde na eternidade e ouça dizer-lhe o Senhor: Aparta-te de mim; nunca te conheci» . . . Aquele que foi perdoado de verdade, e sabe disso, é alguém que perdoa. Esse é o significado do Sermão da Montanha sobre este particular.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Experiência da Presença de Deus – M. Lloyd-Jones

. . .precisamos dar-nos conta de que estamos na presença de Deus. Que significa isso? Significa a percepção de algo de quem Deus é e do que Ele é. Antes de começar a proferir palavras, devemos sempre • proceder assim.  Devemos dizer-nos a nós mesmos: «Estou entrando agora na sala de audiências daquele Deus,  o Todo-poderoso,   o  absoluto, o eterno e grande Deus, com todo o Seu poder, força e majestade, aquele Deus que é fogo consumidor, aquele Deus que é luz, e não há nele treva nenhuma, aquele perfeito, absoluto e Santo Deus. É isso que estou fazendo» . . . Mas, acima de tudo, nosso Senhor insiste em que devemos aperceber-nos de que, além de tudo aquilo, Ele é nosso Pai. . .

Oh, que compreendamos essa verdade! Se tão-somente entendêssemos que este Deus onipotente é nosso Pai mediante o Senhor Jesus Cristo! Se tão-somente compreendêssemos que . . .toda vez que oramos é como um filho dirigindo-se a seu pai! Ele sabe todas as coisas que nos dizem respeito; Ele conhece cada uma de nossas necessidades antes que Lhas contemos. . . Ele deseja abençoar-nos muitíssimo mais do que desejamos ser abençoados. Ele tem opinião formada a nosso respeito, Ele tem um plano e um programa para nós, Ele tem uma ambição a favor de nós, digo-o com reverência, uma inspiração que transcende o nosso mais elevado pensamento e imaginação. . .

Ele cuida de nós. Ele já contou os cabelos de nossa cabeça. Ele disse que nada nos pode suceder fora dEle. Depois, é preciso que lembremos o que Paulo declara tão gloriosamente em Efésios 3. Ele é «poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos,, ou pensamos». Esse é o verdadeiro conceito da oração, diz Cristo. Não se trata de ir fazer girar a roda de orações. Não basta contar as contas. Não diga: «Devo passar horas em oração; decidi-me a fazê-lo e tenho que fazê-lo» . . . Temos que despojar-nos dessa noção matemática da oração. O que devemos fazer, antes de tudo, é dar-nos conta de quem é Deus, do que Ele é, e de nossa relação com Ele.